Imobiliárias fecham portas porque "sem visitas, não há negócios"
Covid-19
18 de mar. de 2020, 16:35
— Lusa/AO Online
“Começaram por estar à porta fechada e depois a
pedir aos colaboradores para ficarem em teletrabalho, a fazer trabalho
de retaguarda, mas o teletrabalho para nós é muito complicado, porque
não havendo visita [ao imóvel], muito dificilmente há concretização do
negócio”, afirmou o presidente da APEMIP em declarações à agência Lusa.Embora
ressalvando que “as empresas são independentes” quanto à decisão de se
manterem ou não em atividade, Luís Lima diz que as indicações dadas pela
APEMIP aos seus associados foi “para que fechassem”: “Não vale a pena,
não há trabalho e o risco não compensa. Neste momento é fazer as
escrituras que pudermos nos negócios que já estão feitos, mas novos
negócios há muito poucos, é esporádico”, sustentou.“Na
semana passada ainda conseguimos fazer as escrituras, mesmo na região
Norte do país [onde se registaram os primeiros casos positivos de
infeção por Covid-19], mas nesta semana estamos a ter alguma
dificuldade, porque muitos notários também não estão disponíveis para
concretizar as escrituras”, acrescentou. Para
o dirigente associativo, esta situação é “perfeitamente compreensível”
no atual contexto de pandemia: “As visitas estão fora de questão. Qual é
o proprietário que abre a sua casa para entrarem pessoas desconhecidas
para visitar? Quem é que hoje em dia consegue ter cabeça para decidir a
compra de um bem como uma casa?”, questiona.Ainda
assim, Luís Lima aproveita para “deixar uma palavra de esperança às
empresas”, considerando que a atual situação “é a demonstração de que,
mesmo com o avanço tecnológico, o papel do mediador físico é fundamental
e, sem se conseguir mostrar a casa e marcar reunião com o cliente e o
proprietário, não há concretização do negócio”. De
acordo com o presidente da APEMIP, “também as imobiliárias que vivem da
captação de investimento estrangeiro estão sem trabalho, porque não há
turistas a entrar e os estrangeiros não chegam ao país”.No
atual contexto, as preocupações da associação centram-se no que diz ser
a exclusão do setor das medidas de apoio anunciadas pelo Governo, com
Luís Lima a reivindicar o lançamento uma linha de crédito específica."O
imobiliário nunca é bem tratado. Apesar de todo o trabalho que temos
desenvolvido e da importância que, comprovadamente, revelámos ter no
panorama económico nacional, continuamos a ser tratados como os maus da
fita a quem só se atribuem as culpas de tudo o que acontece, como dos
problemas habitacionais que se vivem", considera.Recordando
que “o imobiliário é um dos principais responsáveis pela recuperação da
economia portuguesa” e que atualmente “mais de 40 mil pessoas dependem
diretamente deste setor", que "só em 2019" terá gerado "mais de 27 mil
milhões de euros de investimento direto, dos quais cerca de 19 mil
milhões foram da responsabilidade das empresas de mediação imobiliária",
a APEMIP lamenta que os mediadores estejam agora “a ser tratados como
cabeleireiros ou outra atividade qualquer”.Apesar
de reconhecer que o atual momento é complexo e que o executivo liderado
por António Costa estará a fazer "o seu melhor" para dar resposta ao
combate à propagação do novo coronavírus, Luís Lima defende a
necessidade de medidas específicas para apoiar as empresas deste setor,
na sua maioria pequenas e médias empresas (PME)."Foram
promovidas medidas específicas para a restauração, turismo e indústria,
por exemplo, mas o imobiliário também tem que ser incluído neste
cenário com uma linha de crédito particular para o setor. As empresas
não vão conseguir liquidez neste período que obriga ao isolamento
social", alerta.Nesse sentido, o
responsável apela "ao setor financeiro para que não fique a aguardar
diretrizes do Governo e seja proativo na antecipação à proteção dos
particulares e micro, pequenas e médias empresas", salientando que a
banca tem “um papel fundamental na imposição da concessão de moratórias
nos créditos a empresas e famílias, para que não se sintam estranguladas
neste momento tão difícil".