IL/Açores quer alterações para regularização urbanística dos “chãos de melhoras”
12 de jan. de 2023, 17:53
— Lusa/AO Online
A
situação designada por "chãos de melhoras" foi uma figura urbanística
utilizada nos séculos XIX e XX nos Açores, consistindo na cedência
temporária, por parte do proprietário de terreno, da fruição temporária
do uso do solo, mediante o pagamento de uma contrapartida financeira.As
habitações construídas nesse solo são da propriedade dos fruidores, mas
os terrenos onde se situam não lhes pertencem, criando dificuldades não
só a nível jurídico, como até na manutenção das casas.Em
comunicado, o deputado da Iniciativa Liberal (IL) lembra que, em 2019,
foi criado um mecanismo jurídico e legal que visava colmatar as
dificuldades sentidas pelos proprietários dos prédios ou responsáveis
pelas benfeitorias introduzidas ao longo dos anos”.Contudo, "o tempo já comprovou que, sem alterações, a legislação aprovada não resolve todos os problemas", assinala Nuno Barata.O
deputado diz que ainda existem “muitas situações habitacionais por
regularizar” na região, particularmente na ilha de São Miguel, devido "à
dimensão do território e a razões de índole cultural, social e
económica". Segundo o parlamentar, “ao fim
destes anos, a legislação acabou sendo inconsequente por definir regras
demasiadamente burocráticas e dependentes da boa vontade de terceiros
para a sua persecução", referindo-se a planos de pormenor a fazer pelas
autarquias, que "se revelaram, nalguns casos incapazes de os elaborar".O IL defende, por isso, a necessidade de “simplificar" o processo para "ir ao encontro das necessidades dos cidadãos”.Nuno
Barata defende que a aprovação das alterações que propõe permite "dar
um decisivo contributo na facilitação da resolução" dos processos dos
"chãos de melhoras" e possibilita "o alargamento do regime de
incentivos, criado pelo Governo Regional, para apoio à aquisição da
propriedade do solo e também às benfeitorias.A
apresentação desta iniciativa legislativa (que, caso seja aprovada nos
Açores, remeterá para a Assembleia da República a responsabilidade
última de simplificar e desburocratizar o processo) surge, “da
auscultação e diálogo" que manteve com proprietários, benfeitores e seus
representantes” que, "em especial desde 2017, têm sido pressionados
para resolver as situações", indica o parlamentar.Na
freguesia das Sete Cidades, na ilha de São Miguel, concelho de Ponta
Delgada, a regularização da "maior parte dos procedimentos está
concluída", segundo o deputado.No entanto,
"existem outras localidades do concelho de Ponta Delgada, e de outros
na mesma ilha, que se estão a registar como mais complexos", alerta.Na
nota de imprensa, a IL lembra que a lei n.º 72/2019, de 02 de setembro,
estabeleceu o regime jurídico da regularização dos designados “chãos de
melhoras”.Para tal foi criado um
mecanismo que prevê um direito potestativo (que não admite contestações)
temporário de aquisição da propriedade do solo (“chãos”) ou das
edificações nele existentes (“melhoras”), bem como o regime de
regularização urbanística, concretamente na ilha de São Miguel.A
legislação “determinou que o direito potestativo de aquisição decorre
num prazo de 10 anos após a publicação da lei e fica sujeito à condição
suspensiva de aprovação dos planos de regularização urbanística,
nomeadamente planos de pormenor, que são da competência das câmaras
municipais”. Contudo, os municípios “não
cumpriram com os prazos previstos prejudicando os finais destinatários
da legislação produzida e atrasando a resolução de muitos processos
registados”, devido às dificuldades encontradas, “já que muitos dos
atuais proprietários desconhecem a localização das “benfeitorias”, uns
estão emigrados ou já faleceram”.