Igreja “leva muito a sério” casos de abuso e critica “generalizações injustas”
10 de nov. de 2022, 17:45
— Lusa/AO Online
Reconhecendo
que os casos de abuso sexual na Igreja “têm impacto” no dia-a-dia da
instituição, o também bispo de Leiria-Fátima manifestou-se convicto de
que não é esta situação “que leva as pessoas a desistirem da Igreja”.Falando
no final da Assembleia Plenária da CEP, José Ornelas criticou as
“generalizações injustas” feitas a propósito dos casos de abuso sexual
de menores por parte de membros da Igreja, um ponto que também ficou
expresso no comunicado final do encontro que decorreu desde
segunda-feira em Fátima.O prelado,
sublinhando que “a luta contra os abusos” é algo que a Igreja “está a
fazer seriamente”, convidou mesmo a que se vejam as estatísticas da
Polícia Judiciária, para obter informações sobre “quantos casos surgiram
de abusos [este ano] e quantos surgiram na Igreja”.Deixando,
mais uma vez, um pedido de perdão às vítimas, José Ornelas defendeu que
“terá de haver publicamente um pedido solene e perdão”, mas ainda não
está decidida a forma como será feito.A
Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra as Crianças
na Igreja Católica em Portugal, acompanhada do Grupo de Investigação
Histórica, este presente nos trabalhos da Assembleia Plenária do
episcopado para fazer o ponto da situação do processo de estudo, cujo
relatório será divulgado no próximo dia 31 de janeiro.“Ao
mesmo tempo que agradece o dedicado e competente trabalho da Comissão
Independente, a Assembleia reafirma a profunda gratidão e o pedido de
perdão às vítimas que, na dureza da sua dor, têm dado o seu testemunho
ou depoimento, e manifesta o propósito de garantir a tolerância zero
quanto aos abusos sexuais de menores e pessoas vulneráveis na Igreja,
grave realidade que contradiz a sua identidade a missão”, refere o
comunicado final dos trabalhos, lido pelo secretário da CEP, padre
Manuel Barbosa.Os bispos reconhecem que
“tem sido um tempo penoso para todos, mas acreditam também que tem sido
um tempo de purificação, na busca da justiça e da verdade, identificando
situações dolorosas sem generalizar indevidamente nem acusar
indiscriminadamente”.“A Assembleia exprime
o seu profundo apreço para com os sacerdotes nestes tempos em que
generalizações injustas e não verdadeiras colocam na sombra vidas
inteiras dedicadas ao serviço das comunidades cristãs e da sociedade,
particularmente das pessoas mais fragilizadas. Os casos de abusos
detetados são claramente lamentáveis e objeto de grande preocupação,
justificando os esforços em curso para erradicá-los da vida da Igreja,
mas tal não invalida o precioso serviço que os sacerdotes, consagrados e
leigos prestam à vida da Igreja e da sociedade, em Portugal e em todo o
mundo, que merecem toda a nossa gratidão e apoio”, acrescenta o
documento.A Comissão Independente,
liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que começou a recolher
testemunhos de casos de abuso no seio da Igreja em janeiro deste ano,
entregará o seu relatório em 31 de janeiro.Até outubro, a comissão tinha validado mais de 400 casos, alguns dos quais remeteu para o Ministério Público.