Igreja dos Açores promete “tolerância zero” com abusos sexuais
14 de fev. de 2023, 06:41
— Lusa/AO Online
“Da minha
parte e da diocese, gostaria de dizer que haverá tolerância zero nesse
campo. Não toleramos esse tipo de procedimentos. Tudo faremos para que
sejam erradicados definitivamente, não só na Igreja, como na sociedade
em que vivemos”, afirmou, falando aos jornalistas no Centro pastoral Pio
XII, em Ponta Delgada.Armando Esteves
Domingues reagia à divulgação do relatório da Comissão Independente para
o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, que
identificou oito casos de abuso nos Açores: um em Angra do Heroísmo, um
na Praia da Vitória, um na Calheta, dois nas Velas, um no Faial, um nas
Lajes do Pico, um em São Roque do Pico.“Acabado
de receber o relatório final sobre os abusos com crianças no seio da
Igreja, não posso deixar de exprimir a profunda vergonha e a dor que
sinto, mas essa não se compara em nada com o que será a dor das
vitimas”, acrescentou.No âmbito da
elaboração daquele relatório, o bispo de Angra do Heroísmo avançou que
os arquivos da diocese açoriana foram estudados por dois investigadores
durante três dias.Para Armando Esteves Domingues, pedir “perdão às vítimas em nome da Igreja é pouca coisa”.“Queria
dizer às vítimas que, em momento algum, quereria que se sentissem sós.
Não estão sozinhos. Se tínhamos uma comissão, agora mais se compromete. A
Comissão Independente terminou o seu trabalho, entregando o relatório,
mas a diocese continuará esse espaço de escuta”, destacou.O
bispo considerou que o relatório vai permitir “estudar estratégias para
o futuro” e deixou uma “palavra de solidariedade” a todos os abusados
que “não quiseram exprimir em queixa o seu lamento interior”.“Mesmo
que haja crimes prescritos, para a Igreja não há prescrição. O direito
canónico não prescreve. Portanto, [as vítimas] serão pessoas que
queremos continuar a ouvir, a acolher, a acompanhar e a responder àquilo
que necessitaram”, reforçou.Sobre o facto
de a ilha de São Miguel não ter tido qualquer caso
denunciado, Armando Esteves Domingues não quis comentar a possibilidade
de os números estarem subdiagnosticados.“As
vítimas que quiseram falar falaram livremente. São provenientes de
determinados concelhos. As vítimas queixam-se de pessoas naqueles
lugares. É um dado objetivo. Não quero tecer considerações sobre a maior
das ilhas que, de facto, não tem casos”, apontou.Acompanhando
o bispo, Maria do Sameiro, membro comissão diocesana de proteção de
menores, revelou que não chegou qualquer denúncia àquela comissão
constituída “há mais de um ano”.“Com
encerramento dos trabalhos a nível nacional, a comissão diocesana
mantém-se e mantém aberta a possibilidade de qualquer pessoa que queira
apresentar uma denúncia vir ter connosco. Temos uma linha de inverter um
telefone próprio que é o 913766061”, reforçou.A
Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na
Igreja Católica recebeu 512 testemunhos validados relativos a 4.815
vítimas desde que iniciou funções em janeiro de 2022, anunciou o
coordenador Pedro Strecht, que referiu ainda que esta comissão enviou
para o Ministério Público 25 casos.