Igreja deve apoiar financeiramente vítimas de abusos

16 de out. de 2025, 17:45 — Lusa/AO Online

A Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores analisou a questão das reparações num segundo relatório anual sobre um tema sensível para a Igreja Católica.No relatório, relativo a 2024, antes da eleição do Papa Leão XIV, são apresentados relatos de 40 vítimas em todo o mundo e dá voz às queixas sobre a forma como a Igreja tratou mal os casos e as exigências de quem sofreu abusos. Leão XIV reconheceu que o escândalo dos abusos, que manchou gravemente a credibilidade da hierarquia católica nos Estados Unidos, em partes da Europa e na América Latina, continua a ser "uma crise" para a Igreja.O Papa fez questão de assinalar o compromisso com a comissão criada em 2014 pelo antecessor Francisco e que aconselha a Igreja sobre as melhores práticas para prevenir abusos.O relatório sublinhou que os acordos monetários são necessários para fornecer às vítimas a terapia necessária e outra assistência complementar para ajudar a recuperar do trauma."A Igreja tem a obrigação moral e espiritual de curar as feridas profundas infligidas pela violência sexual perpetrada, permitida, maltratada ou encoberta por qualquer pessoa que ocupe uma posição de autoridade na Igreja", salientou.O documento, preparado com as vítimas num grupo de discussão, identificou a necessidade de responsabilização dos líderes da Igreja, de informação sobre os casos, de uma verdadeira reforma das estruturas da Igreja para punir adequadamente abusadores e facilitadores, e criar estratégias de prevenção eficazes."A comissão está empenhada em dizer às vítimas e aos sobreviventes: Queremos estar ao vosso lado", disse o novo presidente da comissão, o bispo francês Thibault Verny, numa conferência de imprensa no Vaticano.Significativamente, o relatório de 2024 afirmou que a forma como a Igreja lida com os casos de abuso e o "padrão de décadas de tratamento incorreto das denúncias, incluindo o abandono, a ignorância, a vergonha, a culpabilização e a estigmatização" das vítimas, é, por si só, traumatizante. O processo está envolto em secretismo, de tal forma que as vítimas não têm qualquer direito à informação sobre o seu caso, além do resultado.As vítimas não têm qualquer recurso real além de tornarem pública a sua história, o que também pode ser traumatizante.O relatório pedia sanções que fossem "tangíveis e proporcionais à gravidade do crime". Apesar de a laicização ser um resultado possível para os padres perpetradores, a Igreja é muitas vezes relutante em afastar completamente os padres. Frequentemente, aplica sanções mais leves, como um período de retiro do ministério ativo, mesmo em casos graves de abuso.O relatório atribuiu boas notas aos líderes da Igreja em Malta, na Coreia do Sul e na Eslováquia, onde a maioria das dioceses, se não todas, responderam ao questionário da comissão sobre políticas e práticas de prevenção.No entanto, mesmo em Itália, apenas 81 das 226 dioceses responderam ao questionário.O documento pedia ainda que a Igreja "comunicasse claramente as razões da demissão ou do afastamento" dos membros visados em casos de abusos.O relatório fez uma auditoria às políticas e práticas de proteção das crianças em mais de uma dúzia de países, bem como em duas ordens religiosas, num movimento laico e no gabinete do Vaticano responsável pela Igreja no mundo em desenvolvimento.Referia ainda que o gabinete missionário, responsável por 1.124 dioceses na Ásia, África, Oceânia e partes da América Latina, ou seja, um terço das dioceses da Igreja, ter recebido apenas um "pequeno número de casos" e apenas duas denúncias de bispos que encobriram a verdade.