Igreja deve acelerar processos em casos de abusos de menores
29 de out. de 2024, 13:20
— Lusa/AO Online
Numa
conferência de imprensa no Vaticano, a comissão criada pelo papa em
2014 para fazer face ao flagelo de abusos de menores na Igreja
apresentou hoje o seu primeiro relatório anual sobre as «políticas e
procedimentos da Igreja para a proteção» das vítimas, um documento com
cerca de 50 páginas, na qual é reconhecido que as vítimas continuam a
sofrer processos civis e canónicos que são “opacos”, “difíceis” e
“lentos”, prolongando o seu sofrimento.Nesse
sentido, a comissão, chefiada pelo arcebispo de Boston, o cardeal Sean
O'Malley, apela a que se “garanta uma gestão eficaz, rápida e rigorosa”
de cada caso de abuso, com “um melhor acesso das vítimas” à informação
de que necessitam para “enfrentar o problema da opacidade”, assim como a
indemnizações, clarificando também o papel de cada dicastério da cúria
romana.Este “relatório-piloto” da comissão
de proteção das vítimas de abusos na Igreja, que analisou um total de
20 países e várias instituições e congregações religiosas, defende então
“a necessidade de racionalizar e acelerar o processo de demissão do
cargo” assumido pelos clérigos envolvidos, ainda que sem especificar se
este deve ter lugar em caso de suspeita e denúncia ou no final de um
processo judicial, canónico ou civil, acrescentando apenas “quando se
justificar”.Entre outras recomendações
emitidas neste relatório, a comissão liderada pelo cardeal
norte-americano O’Malley apela também a uma “maior transparência” do
gabinete de abusos sexuais do Vaticano, o Dicastério para a Doutrina da
Fé, sublinhando que o lento processamento dos casos e o secretismo do
gabinete agrava os traumas das vítimas.A
sua recusa em publicar estatísticas ou a sua própria jurisprudência
continua “a fomentar a desconfiança entre os fiéis, especialmente a
comunidade de vítimas e sobreviventes”, acrescenta.A
comissão aponta ainda que os casos de abuso não dizem respeito apenas a
menores, mas são também reconhecidos pela Igreja como envolvendo
adultos “vulneráveis”, razão pela qual defende o desenvolvimento de “uma
definição mais uniforme de vulnerabilidade”.Na
conferência de imprensa de apresentação deste primeiro relatório, o
chefe da comissão do Vaticano que combate os abusos sexuais de menores
na Igreja Católica garantiu às vítimas que será feito “todo o possível”
para que estes casos “não voltem a suceder”, admitindo uma vez mais que a
Igreja “falhou”.“Queremos deixar algo
muito claro: o trabalho desta comissão, incluindo este relatório, tem
sido sempre em torno do reconhecimento e da inclusão de vítimas de abuso
[…] Louvamos os vossos testemunhos corajosos e reconhecemos que
provavelmente estão cansados de palavras ocas. Como Igreja, falhámos e
não vos defendemos e não vos escutámos quando precisavam mais de nós”,
disse, reiterando “o firme compromisso no sentido de que estes eventos
não voltem a suceder na Igreja”, no que classificou como “tempos
obscuros”.