Identificados mais de 800 timorenses a viver em Portugal em situação de vulnerabilidade
25 de out. de 2022, 16:53
— Lusa/AO Online
Em
entrevista à agência Lusa, Isabel Almeida Rodrigues, que coordena o
grupo de trabalho criado no início de setembro pelo Governo para
acompanhar o fluxo de timorenses que têm chegado ao país nos últimos
meses, precisou que as 825 pessoas identificadas em situação de
vulnerabilidade não estavam todas em situação de sem abrigo.“Os
graus de vulnerabilidade não são todos idênticos e esta distinção é
importante porque as respostas são acionadas em função da situação
concreta de cada um”, disse.Como exemplo,
referiu que pode haver uma pessoa que tenha resolvida a situação de
alojamento, mas que não está integrada no mercado de trabalho e isso
constitui uma vulnerabilidade uma vez que fica privada de rendimento.Segundo a governante, dos 825 timorenses identificados foram realojados 493 e está a ser assegurado apoio alimentar a 500.“Realojamos
493 pessoas e temos 252 pessoas em alojamento coletivo. Estas respostas
foram conseguidas, como é normal nestas situações, em articulação com
respostas de emergência social e com as autarquias locais. Aliás, é
desejável que tenhamos sobretudo as entidades ao nível do território
envolvidas, porque também para o território é importante que estas
situações sejam acauteladas”, afirmou.Estes
timorenses em situação de vulnerabilidade sinalizados pelo ACM foram
identificados no âmbito do grupo de trabalho que tem representantes de
várias áreas governativas, desde migrações, negócios estrangeiros,
administração interna, trabalho, solidariedade e segurança social,
habitação, agricultura, economia, finanças e coesão territorial.De
acordo com a governante, o grupo de trabalho foi constituído sobretudo
para coordenar a ação dos diversos serviços e garantir a consistência
das ações e a necessária partilha de informação entre os vários
serviços.O grupo criado pelo Governo tem
trabalhado em diversas dimensões, nomeadamente a identificação e
reconhecimento das situações de vulnerabilidade, ativação de apoios
sociais, realojamento e procura de trabalho.A
secretária de Estado especificou que os timorenses que chegam a
Portugal são sobretudo homens, jovens, com poucas qualificações e sem
dominarem o português.Nesse sentido,
acrescentou que as respostas que também estão a ser dadas no âmbito do
grupo de trabalho é a aprendizagem da língua portuguesa e programas de
capacitação e formação para preparar melhorar os timorenses para a
integração no mercado de trabalho e na comunidade.
Outra das dimensões deste trabalho junto dos timorenses em Portugal
passa pelo apoio ao retorno voluntário, mas, segundo Isabel Almeida
Rodrigues, são poucos aqueles que querem regressar a Timor-Leste.“A
grande maioria destas pessoas pretende ficar em Portugal e posso
adiantar que 720 já procederam à sua manifestação de interesse, tendo em
vista a regularização da sua situação jurídica”, disse.A
falta de trabalho em Timor-Leste está a provocar um êxodo de
trabalhadores, com Portugal a tornar-se um dos principais destinos, uma
vez que não necessitam de visto por um período de 90 dias.Uma
procura que está a levar ao aparecimento de agências e de anúncios a
tentar enganar jovens timorenses, a quem são cobradas quantias avultadas
com a promessa de trabalho ou vistos.Sem
trabalho e sem alojamento, muitos destes jovens tornaram-se sem abrigo,
nomeadamente no Martim Moniz, em Lisboa, onde o ACM tem, de acordo com
Isabel Almeida Rodrigues, equipas todas as noites.“Eu
não posso garantir que nós, neste momento, temos identificado todos os
cidadãos em situação de sem abrigo, porque posso receber um alerta de
que há um grupo numa determinada localidade”, realçou.A secretária de Estado disse que os timorenses se mobilizam bastante dentro do país e não procuram as entidades.“De
todas as situações que temos identificado são os serviços que vão à
procura das situações e não as pessoas que procuram os serviços para
obter o apoio de que de que necessitam”, disse ainda.Desde março e até 11 de outubro, entraram em Portugal 4.721 timorenses e saíram 4.406, segundo o SEF.Fonte
do SEF disse ainda à Lusa que participou 11 situações envolvendo
timorenses por indícios de auxílio à imigração ilegal e de tráfico de
pessoas ao Ministério Público.