Human Rights Watch denuncia maus-tratos e torturas a mulheres no Afeganistão
20 de out. de 2022, 11:41
— Lusa/AO Online
De
acordo com a organização de defesa de direitos humanos com sede nos
Estados Unidos, as detenções arbitrárias e os abusos relatados pelas
mulheres afegãs são apenas um exemplo da repressão dos fundamentalistas
islâmicos que controlam o poder no Afeganistão desde o ano passado. Segundo
a Human Rights Watch (HRW), as mulheres estiveram presas na sede do
Ministério do Interior do Afeganistão, na capital do país, em condições
degradantes.Uma das mulheres que foi detida por participação em manifestações relatou que a cela em que esteve presa não tinha ventilação.No local chegaram a estar 20 afegãs e sete crianças que passaram vários dias sem alimentação e, praticamente, sem água. "Havia
uma janela pequena, mas não a podíamos abrir. Não havia ar condicionado
(...) era como se não houvesse oxigénio na cela. As crianças não eram
capazes de dormir", disse uma das testemunhas cuja identidade não foi
revelada por questões de segurança.Uma outra testemunha, vítima de maus-tratos, disse que os interrogatórios se prolongavam durante três horas.Muitas das sessões contavam com a presença de membros da própria família, do sexo masculino, obrigados a assistir. O
relatório da HRW refere-se em particular a três mulheres que foram
detidas no passado mês de fevereiro em Cabul pela alegada participação e
organização de manifestações em que protestaram contra a supressão de
direitos pelo novo regime talibã. Como
condição para serem libertadas, os talibãs confiscaram aos familiares
das manifestantes os títulos de propriedade dos locais onde residem, na
capital do país. Segundo o organismo de
defesa dos direitos humanos, estas três mulheres conseguiram fugir do
Afeganistão após terem sido libertadas e "estão a tratar chegar a um
país que lhes garanta segurança".Heather
Barr, diretora interina da secção de apoio aos direitos das mulheres da
HRW, disse que "as histórias destas três mulheres mostram a ameaça que
os talibãs sentem em relação às manifestações, assim como demonstram aos
atos de extrema brutalidade que são levados a cabo no sentido de
silenciarem as mulheres". Apesar das
promessas de mudanças, os talibãs têm repetido os mesmos comportamentos
que implementaram durante o regime anterior, que se prolongou entre 1996
e 2001, impondo o "pastunwali", uma prática que impede as mulheres de
acederem a qualquer tipo de assistência, ajuda e educação escolar.