Autor: Ana Carvalho Melo
“O meu avô tocava Viola da Terra no Grupo Folclórico Tavares Canário e também tocava Viola de Fado. E daí passou para o meu pai que toca Viola de Fado”, recordou, contando que também pertence a “uma família de artistas a trabalhar madeira”.
Esta junção suscitou a vontade de construir instrumentos, arte que tem vindo a aperfeiçoar nos últimos 18 anos.
“Ao princípio parece que é fácil fazer um instrumento. Mas depois torna-se mais difícil porque temos de ser cada vez mais perfeccionistas de modo a aumentar a qualidade dos nossos instrumentos. Eu sinto que estou cada vez mais exigente, mas os músicos também estão cada vez mais exigentes, daí estar sempre à procura de evoluir”, descreveu. O primeiro instrumento que construiu foi uma Viola Clássica, o instrumento que o pai toca, tendo a Viola da Terra surgido por intermédio de Ricardo Melo, amigo do pai.
No seu trajeto de formação, Hugo Raposo encontrou-se com Gilberto Grácio, um importante construtor de guitarras, cuja oficina já vai na terceira geração de mestres luthiers.
“Eu fiz um estágio com o mestre Gilberto Grácio que correu muito bem porque ele é um mestre com muita sabedoria, que construiu guitarras para grandes nomes, como Carlos Paredes”, recordou.
No seu trabalho na oficina na Rua do Peru, em Ponta Delgada, este luthier intercala entre a produção de novos instrumentos, as reparações, os restauros e as afinações de outros.
“Construir um instrumento é uma oportunidade para deixar a minha marca, porque enquanto o instrumento durar o meu nome vai lá estar. Mas também gosto do restauro porque há muitos instrumentos bons e eu admiro muito os construtores de antigamente, que sem os conhecimentos e o acesso aos mesmos que temos hoje em dia, faziam coisas muito bonitas que temos de respeitar e admirar”, realçou.
A construção de uma Guitarra Portuguesa ou de uma Viola da Terra demora entre 100 a 150 horas de trabalho artesanal, na sua maioria muito minucioso, repartidas entre um mês e meio a dois meses de trabalho. Concebendo assim instrumentos que se caracterizam por ser sempre únicos, ainda que os materiais usados sejam os mesmos. “Cada guitarra é única o que faz com que tenha um som distinto, que depende da reação da madeira. O resultado final é sempre um mistério. Só quando se põem as cordas é que se sabe”, contou.
Sendo que quando questionado sobre o que torna os seus instrumentos únicos, afirmou: “Isso vem da personalidade de cada construtor. E eu nunca estou satisfeito, por melhor que o instrumento seja. Costuma dizer-se que as guitarras são “as belas e imperfeitas” e sei sempre que podia ter feito melhor”.
Hoje os instrumentos construídos por Hugo Raposo já são conhecidos dentro e fora do país.
“O guitarrista da Mariza, José Manuel Neto, tem uma guitarra feita por mim. E tenho instrumentos meus por todo o mundo”, contou.