Hugo Garcez Coelho: “A nossa casa são as nove ilhas, e é com muito orgulho que chegamos a todas”
#Empresário
19 de nov. de 2024, 09:45
— Made in Açores
Qual foi a sua principal motivação
quando decidiu trazer algo de novo a um negócio familiar?Desde criança, sempre me inspirei em
todo o esforço que foi feito sobre um produto tão emblemático e
uma marca muito importante na região como reconheço que é a Yoçor.
Do meu ponto de vista, a postura da empresa acabou por ser marcar a
diferença na forma como se apresenta os lacticínios nos Açores.
Reconheço as dificuldades que houve nessa implementação e isso
faz-me ter ainda mais respeito pela marca. Este foi, desde logo, um
fator que sempre me motivou a querer ajudar. Assumo também que o meu
sentido de família é bastante apurado e que isso também tem grande
importância. Por isso, quando me pediram para colaborar, trazendo o
meu conhecimento teórico e académico, senti logo que ajudar era a
minha missão.
Trabalhar com pessoas que lhe são tão
próximas é desafiante?
Quando existe uma relação fora do
trabalho, particularmente quando se trata de família, esses laços
serão sempre preponderantes e sobrepõem-se ao trabalho. Há que
haver uma barreira bastante definida e algum respeito,
independentemente das relações ou da familiaridade que existe. Não
é nada fácil e, por vezes, sacrifica-se muita coisa para fazer o
melhor pelos projetos, o que acaba por ter consequências nas nossas
relações pessoais. Mas, no final de contas, estas ligações são
também um motivador extra para darmos o nosso melhor. Tenho a
consciência que não é assim em todas as empresas. Há quem não
tenha estas preocupações e acaba por ser mais relaxado no seu
trabalho porque está tudo em família e não existe uma pessoa
externa a fazer pressão. Não é o meu caso. Para mim, trabalhar com
a minha família inspira-me e transmite-me um sentido de missão
ainda maior.
Como foi este processo de introduzir
ideias novas num negócio já consolidado?
Ter duas gerações completamente
díspares, sem qualquer tipo de geração pelo meio, na gestão da
empresa foi, desde logo, muito interessante. Houve esse contraste
entre uma pessoa com muito mais idade e experiência, e uma pessoa
completamente nova. Esta relação do conhecimento teórico com o
conhecimento prático foi muito importante no meu desenvolvimento. Ao
longo dos anos, tornei-me cada vez mais sozinho nestas decisões, mas
hoje estou a trazer novamente a família aos negócios. Em comum
entre nós há a vontade de querer levar a marca ainda mais além do
que já era. Isso materializou-se numa alteração da imagem,
adaptação da oferta ao mercado e às novas tendências de consumo.
Na verdade, só faltava mesmo encaixar a sua reconhecida fórmula e
qualidade dentro daquilo que são as exigências do mercado no
momento. É desta forma que continuamos a crescer até aos dias de
hoje.
Quais as perspetivas para 2025?
Será, sem dúvida, um ano de
remodelações. Queremos continuar a seguir as tendências de consumo
e, por isso, vamos expandir algumas das gamas que têm apresentado
bons resultados, como os grandes formatos, em tamanho familiar. Vamos
também fazer alguns retoques na forma como comunicamos, quer a nível
de imagem, quer mesmo a nível de marketing. A forma distinta como o
produto é feito é uma informação que tem de passar ao consumidor.
Não podemos simplesmente assumir que reconhecerá a marca apenas
pelo sabor. Hoje em dia, é muito importante essa relação com o
produto, a sua origem. Há que saber relacionar a parte humana e
apresentar um produto que seja um companheiro do consumidor e que
este tenha orgulho em escolher. Por isso, não só queremos
apresentar um produto mais bonito, mais relacionado com o sítio de
onde vem e com as novas tendências, mas também transmitir os nossos
valores, tendo em consideração aquelas que são as preocupações
de hoje em dia.
A que preocupações se refere?
Refiro-me, por exemplo, a questões
ambientais, algo que tem ganho importância na nossa lista de
prioridades. Já em 2022 fizemos um grande investimento para eliminar
os combustíveis fósseis da nossa produção. Voltaremos a fazer um
grande esforço a esse nível no próximo ano, com um investimento em
veículos elétricos para a distribuição. Somos também sensíveis
à questão do plástico, mas não vamos contra ele. Optamos por
pegar em matérias recicladas e fazer os nossos produtos dessas
matérias. Dando um exemplo concreto, estamos a alterar as nossas
garrafas de polietileno (PE) para Polietileno tereftalato (PET),
portanto, vamos fazer uma alteração na tipologia do material. Temos
vindo a sensibilizar os produtores e os nossos fornecedores para
adotarem também estas políticas e alguns deles já estão a fazer
este esforço para atingirmos a meta de termos um material 100%
reciclado. É interessante porque, apesar de estarmos a falar de
material reutilizado, ele é mais caro do que o normal. Apesar disso,
creio que cabe a todos, particularmente à indústria, dar os bons
exemplos no ponto de vista ambiental. E obviamente que, no
comportamento do consumidor, apelamos a que as pessoas também tenham
essa sensibilidade. A meu ver, não se trata apenas de ficar bem na
fotografia mas de assumir uma responsabilidade, de nos sentirmos bem
com o que fazemos.
O que entende ser precisamente essa
imagem de marca da Yoçor?Somos reconhecidos por várias razões,
e o facto de sermos dos Açores é um deles. Para além de termos
esse reconhecimento fora do arquipélago, temos sempre o objetivo de
nos mantermos como uma marca de referência de iogurtes para os
açorianos. São Miguel é o lugar onde produzimos, onde vamos buscar
o nosso leite, mas a nossa casa são as nove ilhas, e é com muito
orgulho que chegamos a todas. Queremos continuar a crescer e a estar
mais presentes em cada uma delas, e nunca deixaremos de fazer um
esforço extra para que isso aconteça.