Hugh Hefner, a figura pouco consensual que transformou o desejo sexual em império multimedia
28 de set. de 2017, 12:42
— Lusa/AO online
Foi
pela mão de Hugh Hefner e da sua revista, a Playboy, que surgiu numa
altura em que o acesso a métodos contracetivos era proibido nos Estados
Unidos, que a nudez feminina entrou nos media. Foi também graças
às mulheres que posaram nuas para a Playboy que Hefner conseguiu criar
um império multimilionário com a marca, que para além da revista inclui
casinos e discotecas. Nascido a 09 de abril de 1926 em Chicago,
Illinois, o 'pai' da Playboy sempre disse que a sua família e uma
educação conservadora o encaminharam para a criação e lançamento, em
1953, da revista, acabando por construir uma das mais importantes marcas
americanas e contribuindo para uma mudança de mentalidades no que se
refere à liberdade sexual. Cooper Hefner, seu filho, prestou
homenagem ao pai num pequeno texto em que afirma que Hefner viveu "uma
vida extraordinária" enquanto "pioneiro cultural e dos media" e o
classifica como um grande defensor da liberdade de expressão, dos
direitos civis e da liberdade sexual. Hugh Hefner era uma figura amplamente admirada, mas longe de ser amada universalmente. Muitos
líderes feministas e religiosos consideravam-no apenas um pornógrafo
glorificado que degradava e objetificava as mulheres com impunidade. Após
a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, a Playboy tornou-se um
fruto proibido para os adolescentes e uma bíblia para homens com tempo e
dinheiro. No espaço de um ano, a circulação passou para 200.000 exemplares e em cinco anos já tinha ultrapassado um milhão. A censura da revista tornou-se inevitável. A Playboy foi banida na China, Índia, Arábia Saudita e Irlanda. Na década de 1950, as lojas que tinham a Playboy colocavam-na nas prateleiras mais altas. As atrizes Drew Barrymore, Farrah Fawcett e Linda Evans estão entre as que posaram para a revista. Várias 'coelhinhas' tornaram-se celebridades, incluindo a cantora Deborah Harry e a modelo Lauren Hutton. Mas
outras 'coelhinhas' tiveram experiências traumáticas. Muitas
denunciaram casos de violação pelo amigo próximo de Hefner Bill Cosby,
que enfrentou dúzias de acusações do género nos últimos anos. Hefner
emitiu uma declaração no final de 2014 dizendo que "nunca toleraria
esse comportamento". Mas dois anos depois, a ex-colega Chloe Goins
processou Cosby e Hefner por agressão sexual, violência de género e
outros crimes por uma suposta violação de 2008. Na década de 1970, a revista Playboy tinha mais de sete milhões de leitores e inspirou publicações como a Penthouse e a Hustler. A
concorrência e a Internet reduziram a circulação para menos de três
milhões no século XXI e o número de edições publicados anualmente foi
cortado de 12 para 11. Em 2015, a Playboy deixou de publicar
imagens de mulheres nuas, citando a proliferação de nudez na internet,
mas restaurou a nudez tradicional no início deste ano. Hefner e Playboy são marcas em todo o mundo. Questionado
pelo The New York Times, em 1992, sobre do que é que estava mais
orgulhoso, Hefner respondeu: "Alterei os comportamentos em relação ao
sexo. Que as pessoas porreiras possam viver juntas agora. Eu
descontaminei a noção de sexo pré-marital. Isso dá-me uma grande
satisfação". A primeira edição da Playboy incluía uma sessão
fotográfica de Marilyn Monroe nua. Martin Luther King Jr., Fidel Castro e
John Lennon foram algumas das personalidades entrevistadas para a
Playboy. Hefner tornou-se o símbolo 'flamboyant' do estilo de
vida que abraçou. Durante décadas foi o anfitrião fumador e de pijama de
seda das constantes festas com celebridades e modelos Playboy que
promovia. Ao longo da década de 1960, Hefner deixou Chicago
apenas algumas vezes. No início da década de 1970, comprou a segunda
mansão em Los Angeles, voando entre as suas casas num avião privado
chamado "The Big Bunny" (O Grande Coelhinho), que tinha um coelho
(símbolo da Playboy) gigante na cauda. Hugh Hefner, que mantinha
uma espécie de harém na sua casa, onde viviam várias mulheres, alegou
ter dormido com mais de mil mulheres. Casou-se três vezes, a
última das quais em 2012, quando tinha 86 anos, com Crystal Harris, 60
anos mais nova. Nunca escondeu que o Viagra desempenhava um papel
importante na sua vida. Hefner foi o anfitrião de um programa de
televisão - "Playboy After Dark" - e em 1960 abriu uma série de clubes
em todo o mundo onde as empregadas usavam roupas reveladoras, orelhas e
caudas de coelho brancas e fofas. No século XXI regressou à
televisão num 'reality show' da TV por cabo - "The Girls Next Door" -,
com três namoradas ao vivo na mansão Playboy de Los Angeles. A
televisão também aderiu ao império de Hefner em 2011, com o drama da NBC
"The Playboy Club", que não conseguiu atrair telespetadores e foi
cancelado após três episódios. O fundador do império Playboy
morreu na famosa mansão de Los Angeles onde viveu, trabalhou e fez das
festas mais badaladas. Tinha-a vendido há cerca de um ano por 100
milhões de dólares (cerca de 88 milhões de euros), mas o contrato
incluía uma cláusula que lhe permitia lá viver até morrer.