Hotelaria e construção civil criticam avales de anteriores governos dos Açores
4 de jan. de 2023, 15:58
— Lusa/AO Online
“Sendo o
SIDER [Sistema de Incentivos ao Desenvolvimento Empresarial da Região]
um apoio às empresas, acho que há falta de transparência aparecer só uma
empresa! Eu colocaria, como empresária, a questão: por que é que não
tive também esse conhecimento?”, questionou Cláudia Chaves, presidente
da estrutura regional da Associação de Hotelaria, Restauração e Similar
de Portugal (AHRESP), ouvida na comissão parlamentar de inquérito à
concessão de avales, reunida em Ponta Delgada.A
empresária referia-se à empresa Angra Sol, proprietária de uma unidade
hoteleira em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, que, de acordo com o
Tribunal de Contas, beneficiou, em 2010, de um aval do Governo para a
contração de um empréstimo de cinco milhões de euros, mas com obrigação
de fazer uma hipoteca sobre o imóvel.“Se
nós tivéssemos tido esta informação antecipadamente, era nossa obrigação
informar todos os nossos associados destas condições, de ter um melhor
financiamento para as candidaturas que estariam a fazer”, insistiu
Cláudia Chaves, lamentando que as condições oferecidas àquele empresário
não tenham sido divulgadas aos outros.Também
Alexandra Bragança, presidente da Associação dos Indústrias de
Construção Civil dos Açores (AICOPA), alegou desconhecer a possibilidade
de os privados poderem aceder a avales do Governo para facilitar o
acesso a empréstimos bancários.“Desconhecia
completamente, e mesmo que existisse algum associado que tivesse
acedido, creio que não seria assunto que ele partilhasse com a AICOPA”,
admitiu a empresária, considerando que “não é nada normal” que só uma
empresa da região tenha conseguido obter um aval do Governo.Alexandra
Bragança recordou que o setor da construção civil está a passar por
dificuldades, e que estes apoios públicos deveriam ter sido “mais
transparentes”, para que mais empresas pudessem aceder a este tipo de
ajudas governamentais.“Obviamente que isso
teria sido muito importante para as empresas de construção civil, até
mais do que qualquer outro setor. O setor da construção civil arrasta-se
de crise em crise. Nessa altura, estava a atravessar grandes
dificuldades e a banca não estava a colaborar”, recordou a empresária,
referindo-se ao período em que o executivo açoriano, na altura liderado
pelo PS, concedeu o aval à Angra Sol.A
comissão de inquérito à concessão e avales a empresas privadas está a
investigar a eventual atribuição ilegal de avales ou garantias
bancárias, concedidas pelos anteriores governos socialistas, a entidades
privadas da região, que possam ter sido pouco transparentes, ou que
possam ter beneficiado algumas empresas.A
comissão, que integra deputados dos oito partidos com representação
parlamentar nos Açores (PS, PSD, CDS, BE, PPM, CH, IL e PAN), só esta
quarta-feira irá ouvir o empresário Américo Gonçalves, presidente da
direção da Angra Sol, que beneficiou de um aval do Governo em 2010, do
qual o Tribunal de Contas só tomou conhecimento em 2020.Os
trabalhos da comissão tiveram início em junho de 2022 e os deputados
tinham, inicialmente, 180 dias para apresentarem um relatório no
parlamento, mas o prazo já foi, entretanto, prorrogado, por mais 90
dias.