Hospital de Ponta Delgada em situação de “insustentabilidade financeira”
1 de ago. de 2024, 12:23
— Lusa/AO Online
De
acordo com uma auditoria do TdC, consultada pela agência Lusa, o
maior hospital dos Açores recebeu um “assinalável reforço das verbas”
através do Orçamento da região entre 2019 e 2022, mas aquele valor foi
“insuficiente para assegurar a cobertura dos gastos incorridos com o
nível de cuidados de saúde prestados”.“Os
gastos suportados pelo HDES naquele período (574,4 milhões de euros)
excederam em 14,7 milhões de euros os rendimentos obtidos (559,7 milhões
de euros), défice revelador da persistência de uma situação de
subfinanciamento das respetivas atividades, tal como foi reconhecido
pela tutela em contraditório”, lê-se no documento.No
final de 2022, os fundos próprios do hospital de Ponta Delgada
cifraram-se em “apenas 3,7 milhões de euros”, tendo a unidade registando
um passivo de 96,3 milhões de euros e um ativo de cerca de 100 milhões
de euros, revela o relatório.“O passivo
corrente, ou seja, as responsabilidades com exigibilidade até 12 meses,
ascendia a cerca de 92,1 milhões de euros (96% do passivo), traduzindo
uma situação de insustentabilidade financeira que decorre do
subfinanciamento crónico da respetiva atividade”, reforça o tribunal.Segundo
o TdC, as receitas com origem no Orçamento da região, de cerca de 539
milhões de euros, constituíram a “principal fonte de financiamento”
(cerca de 86,5%) do HDES.Daquele montante,
522 milhões de euros (84,2% do financiamento total) foram transferidos
para o hospital ao abrigo do contrato-programa para o triénio 2019-2021,
um modelo de financiamento que, alerta o Tribunal, “não corresponde ao
legalmente previsto”.“O modelo de
financiamento subjacente ao contrato-programa, e respetivas
modificações, não corresponde ao legalmente previsto, porquanto os
instrumentos contratuais foram celebrados com atraso e o pagamento das
contrapartidas financeiras acordadas não ficou dependente do cumprimento
de objetivos”, destacam.O TdC aponta a
redução do financiamento público em 2022 (em comparação com 2021) como a
causa da “inflexão da trajetória de recuperação” económica do HDES, que
tinha sido encetada em 2020.“A redução do
financiamento público, em 2022, face ao ano anterior, num contexto em
que a produção hospitalar superou os níveis pré-pandemia e os gastos
operacionais sofreram os efeitos da acentuada subida da inflação, acabou
por determinar a inflexão da trajetória de recuperação dos resultados
económicos do HDES”, realçam os juízes.O
TdC assinala que “não existem evidências de que as tutelas tenham
efetuado diligências no sentido da apresentação do referido plano de
liquidação dos pagamentos em atraso” e recomenda que seja assegurado o
“cumprimento do regime jurídico dos hospitais” e se “controle a execução
dos contratos-programa”.A 04 de maio, o
hospital de Ponta Delgada ficou inoperacional devido a um incêndio que
obrigou a transferir todos os doentes internados para outras unidades de
saúde dos Açores, da Madeira e do continente.Atualmente,
alguns serviços já estão a funcionar no edifício do HDES, mas o Governo
Regional (PSD/CDS-PP/PPM) já revelou a intenção de realizar uma obra
estrutural para modernizar o maior hospital dos Açores.