Horários fixos pesam mais do que salários para enfermeiros do SNS
Hoje 11:18
— Lusa/AO Online
Este trabalho,
publicado no European Journal of Public Health, conclui que as
oportunidades de carreira também influenciam mais a decisão de
permanecer no Serviço Nacional de Saúde (SNS) do que os salários.“A
retenção não depende apenas do que recebem, mas sobretudo de como
trabalham e de como se projetam no futuro dentro da instituição”, afirma
Tiago Correia, coautor do estudo, citado em comunicado.Neste
estudo foram ouvidos cerca de 1.500 enfermeiros que trabalham no SNS,
seja nos cuidados primários (centros de saúde) ou hospitalares.As
conclusões mostram ainda que quase um em cada três profissionais com
horários fixos tendem a expressar maior intenção de permanecer no SNS do
que aqueles que trabalham em regime rotativo.Os
resultados destacam a importância de ter estratégias integradas de
retenção dos profissionais que combinem “melhorias organizacionais,
planos de progressão na carreira e políticas de equilíbrio entre vida
profissional e pessoal”. No estudo, os
investigadores do Instituto de Higiene e Medicina Tropical sublinham que
os resultados diferem daqueles observados entre médicos em estudos
paralelos, confirmando a necessidade de abordagens de retenção
específicas para cada profissão.“A
retenção é hoje um dos maiores determinantes da sustentabilidade dos
sistemas de saúde”, sublinha o coordenador do Centro Colaborador da
Organização Mundial da Saúde para Políticas e Planeamento da Força de
Trabalho em Saúde e professor do IHMT.Os
autores chamam ainda atenção para a importância de ter em conta, na
decisão das políticas a tomar, a posição de enfermeiros que já deixaram o
SNS – que não integraram este estudo -, sublinhando que esta medida
será essencial para “capturar toda a gama de motivações, barreiras e
experiências que influenciam as decisões de retenção”.Face
às conclusões a que chegaram, os investigadores - Mónica Morgado, André
Beja, Rita Morais e Tiago Correia - sugerem o alargamento da adoção de
modelos de horários de trabalho previsíveis, particularmente em
ambientes hospitalares, para mitigar o impacto negativo dos turnos
rotativos na retenção dos enfermeiros.Defendem
ainda a definição de "percursos de progressão na carreira estruturados e
transparentes", para aumentar o reconhecimento profissional e reter
enfermeiros mais jovens, e a aplicação de estratégias de retenção nos
ciclos nacionais de planeamento de recursos humanos em saúde, evitando
que sejam intervenções isoladas, mas que façam parte de "esforços mais
amplos de sustentabilidade" da força de trabalho.Esta
investigação surge numa altura em que Portugal enfrenta o
envelhecimento profissional na área da saúde, com forte competição do
setor privado e do mercado de trabalho internacional, fatores que
dificultam a estabilidade das equipas do SNS.Os
dados da Ordem dos Enfermeiros indicam que, este ano, em julho e
agosto, a organização atribuiu 3.000 títulos a novos enfermeiros,
recém-licenciados, e 50% pediram a declaração para poderem emigrar".Os dados de dezembro de 2023 do Ministério da Saúde mostravam que havia, na altura, 14 mil enfermeiros em falta no SNS. Os
números da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
(OCDE) divulgados em novembro indicam que Portugal é um dos países que
mais “exportam” enfermeiros. Em 2020,
havia 15.418 enfermeiros portugueses a trabalhar em algum país da OCDE,
um crescimento de 568% face a 2000 (quando eram apenas 2.310).No
relatório divulgado em novembro, a OCDE lembra que a escassez de
profissionais de saúde se tornou um desafio crítico nos países que fazem
parte da organização, impulsionada pelo envelhecimento da população,
pelo aumento das necessidades de cuidados e pela crescente procura de
serviços médicos.