Homem detido no caso de homicídio de menina em Setúbal é filho do casal preso desde junho
15 de dez. de 2022, 11:53
— Lusa/AO Online
Fonte da Polícia
Judiciária (PJ) de Setúbal referiu à Lusa que as detenções efetuadas
hoje - da mãe da criança e de um homem de 28 anos, filho do casal que
foi detido juntamente com uma filha a 23 de junho - resultam de alguns
exames periciais que só agora foram concluídos.
"As duas pessoas detidas hoje estão indiciadas pelo crime de
homicídio qualificado", disse a fonte da Polícia Judiciária de Setúbal,
adiantando que os dois arguidos vão ser presentes a tribunal ainda hoje
ou na sexta-feira. A mãe de Jéssica,
Inês Tomás de 37 anos, e o padrasto, tinham sido ouvidos pela Polícia
Judiciária após a morte da menina, mas ficaram ambos em liberdade.
A PJ anunciou na manhã desta quinta-feira em comunicado a detenção de “duas pessoas
suspeitas de estarem relacionadas com a morte de uma criança de três
anos de idade, ocorrida no passado mês de junho, na cidade de Setúbal,
quando se encontrava aos cuidados da sua suposta ‘ama’”. Uma fonte policial referiu à Lusa que uma das pessoas detidas é a mãe da vítima.
Os três primeiros detidos deste processo ficaram em junho em prisão
preventiva: uma mulher de 52 anos a quem a mãe da criança devia
dinheiro, inicialmente identificada como ama, o seu marido, com 58 anos,
e a filha, de 27. Os três foram detidos
pela Polícia Judiciária por suspeita de homicídio qualificado, rapto,
extorsão e ofensas à integridade física.
A morte da menina ocorreu depois de a mãe ter ido buscá-la a casa de
uma mulher que identificou inicialmente às autoridades como ama da
criança. De acordo com a mãe, a filha
esteve cinco dias ao cuidado da mulher e tinha sinais evidentes de
maus-tratos, como hematomas, pelo que foi chamada a emergência médica.
A criança foi assistida na casa da mãe e transportada ao Hospital de
São Bernardo, onde foi sujeita a manobras de reanimação, mas não
sobreviveu aos ferimentos. O coordenador
da PJ de Setúbal, João Bugia, referiu na altura que a mãe foi enganada e
levada a entregar a filha por conta de uma dívida de 400 euros que
tinha para com a suspeita. Nos cinco dias em que permaneceu na casa dos detidos, a criança terá sofrido maus-tratos severos.De
acordo com Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das
Crianças, foi aberto em 2019 um processo de promoção e proteção da
menina, tendo o caso seguido para o Ministério Público (MP).A
sinalização de Jéssica Biscaia, nascida em janeiro de 2019, foi feita
pelo Núcleo Hospitalar de Crianças e Jovens em Risco de Setúbal, "por a
criança estar exposta a ambiente familiar que poderia colocar em causa o
seu bem-estar e desenvolvimento".A medida
de proteção, entretanto decidida pela Comissão de Proteção de Crianças e
Jovens de Setúbal, não foi aceite pelos pais, o que originou de
imediato o envio do processo ao MP, em 31 de janeiro de 2020. Segundo
informação do Tribunal de Setúbal, a 18 de maio de 2020, o MP, com
base numa sinalização de violência entre os progenitores ocorrida na
presença da criança, instaurou um processo judicial de proteção de
Jéssica.Em junho de 2021, foi efetuada uma
avaliação da medida, propondo-se a manutenção por se considerar
existirem ainda fragilidades no agregado familiar (períodos de rutura e
de reconciliação na relação dos pais), e a avó materna assumiu a
responsabilidade de supervisionar os cuidados parentais à neta, com quem
estaria todos os dias.Nesse mês, a equipa
técnica multidisciplinar da Segurança Social de Setúbal relatou ao
tribunal que, de acordo com a informação prestada pela avó, a situação
de violência doméstica entre o casal tinha acalmado.Ainda
de acordo com as informações dadas pelo tribunal, já em maio de 2022,
foi efetuada nova avaliação, referindo que o casal estaria separado, com
o progenitor a trabalhar no estrangeiro desde há cerca de quatro meses e
sem subsistir o quadro de violência entre o casal.Com
base nesta informação, o Ministério Público promoveu o arquivamento do
processo em 24 de maio deste ano, confirmado por um despacho judicial
seis dias depois.