Herbicida com glifosato volta a ser permitido nos Açores mas com exceções
12 de dez. de 2024, 10:02
— Lusa/AO Online
“Com
a aprovação desta proposta demos um passo decisivo para a gestão
eficiente dos nossos espaços públicos, atendendo à necessidade da nossa
região e à necessidade das nossas autarquias, que é o combate às plantas
invasoras”, justificou José Sousa, deputado do Chega na Assembleia
Legislativa Regional, durante a votação do diploma.A
proposta de decreto legislativo regional, aprovada com os votos dos
deputados de PSD, CDS-PP e PPM (partidos que estão no Governo Regional),
contou também com o voto favorável do deputado do IL. Votaram contra o
diploma BE, PS e PAN.“Isto é um
retrocesso” lamentou António Lima, alertando que o glifosato poderá
voltar a ser utilizado “indiscriminadamente”, colocando em risco a saúde
pública no arquipélago.Em 2019, o BE
propôs a proibição do uso de herbicidas com glifosato nos Açores, tendo o
diploma sido aprovado com o apoio da maioria socialista. De
acordo com a proposta do Chega hoje aprovada em plenário, os produtos
fitofarmacêuticos contendo glifosato passam a ser permitidos “em áreas
geográficas limitadas”, a fim de prevenir ou corrigir “situações de
risco”, designadamente para o ambiente, agricultura ou floresta, mas
apenas “mediante a avaliação prévia de um técnico responsável”.“Ao
contrário do que se quis fazer crer, esta proposta não é para espalhar
nuvens de glifosato sobre as pessoas, não é para matar crianças nem
velhinhos, é para ser aplicada de forma responsável e não
indiscriminadamente”, salientou Luís Soares, da bancada do PSD, que
votou a favor do diploma.O deputado do PS
Vasco Cordeiro, que liderou o Governo dos Açores entre 2012 e 2020 ,
disse discordar frontalmente da alteração proposta pelo Chega,
considerando tratar-se de uma medida que vai “contra a salvaguarda da
vida humana” e contra os interesses dos açorianos.“Estamos a ir em sentido contrário do resto da Europa”, afirmou.Pelo
Governo Regional, o secretário do Ambiente e da Ação Climática, Alonso
Miguel, defendeu que é necessário continuar a garantir “o princípio da
precaução na utilização de substâncias que apresentam risco para a saúde
humana”, notando que, por essa razão, continuará a ser proibida a
utilização de herbicidas com glifosato nos Açores, mas com “algumas
exceções”.Alertando para os efeitos
nefastos do glifosato, o deputado do PPM Paulo Margato apelou ao
executivo, liderado pelo social-democrata José Manuel Bolieiro, para que
se aposte cada vez mais “na monitorização deste fármaco” para que haja
uma verdadeira “medida de equilíbrio” no recurso a este tipo de
herbicidas.Pedro Pinto, do CDS-PP,
insurgiu-se contra os partidos que estão preocupados com o regresso de
herbicidas com glifosato, mas que ignoraram a utilização de outros
produtos, alegadamente menos nocivos, mas em maiores quantidades.“Para
substituir o glifosato, usam dois e três fitofarmacêuticos diferentes
e, em vez de um litro de glifosato, usam dezenas de litros de outros
produtos”, disse.Pedro Neves, do PAN,
defendeu que se deve seguir “o princípio da precaução” na utilização do
glifosato nas ilhas, enquanto Nuno Barata, da Iniciativa Liberal,
admitiu que “não há outra forma de combater a infestantes” nos Açores.A
revogação do diploma de 2019 proposta pelo Chega tem o apoio do Centro
de Biotecnologia da Universidade dos Açores e da Ordem dos Médicos, que
consideram que o glifosato pode ser aplicado “nas concentrações
recomendadas” e com as devidas precauções.Contudo,
a maioria dos pareceres recolhidos pela Assembleia Legislativa dos
Açores é contra o levantamento da proibição, incluindo as associações
ambientalistas e a maioria dos conselhos de ilha da região.