Há mais trabalhadores com vencimento base abaixo do salário mínimo na base das Lajes
26 de fev. de 2024, 13:08
— Lusa/AO Online
“Existem
quatro graus desta tabela salarial que estão inferiores ao salário
mínimo nacional, de 820 euros, e existem seis graus da tabela salarial
inferiores à retribuição mínima mensal garantida nos Açores [861
euros]”, adiantou o coordenador do Sindicato das Indústrias
Transformadoras, Alimentação, Comércio e Escritórios, Hotelaria e
Turismo dos Açores (SITACEHT/Açores), Vítor Silva, em conferência de
imprensa.A situação arrasta-se desde 2022,
mas agravou-se com o novo aumento do salário mínimo nacional em
janeiro, abrangendo um maior número de graus e escalões das tabelas
salariais, atualizadas em julho, pelas Feusaçores (forças
norte-americanas destacadas na base das Lajes).Segundo
Vítor Silva, há cerca de 15 trabalhadores com vencimento base inferior à
retribuição mínima mensal garantida nos Açores e há três funcionárias,
com 10 anos de serviço, que mesmo contando com duas diuturnidades,
recebem menos do que 861 euros.Se as tabelas não forem corrigidas, o dirigente sindical teme que o número de trabalhadores afetados aumente em poucos anos.“Com
a situação que nós temos, e se forem cumpridas as promessas por parte
dos partidos políticos quanto ao aumento do salário mínimo nacional,
dentro de dois ou três anos teremos praticamente meia tabela salarial
absorvida pelo salário mínimo e isto não é aceitável”, salientou.Em
setembro de 2022, os trabalhadores apresentaram queixa ao seu superior
hierárquico e posteriormente ao chefe de departamento, mas o processo é
moroso.Depois de passar pelos dois
comandos da base das Lajes, português e norte-americano, e pela comissão
laboral, a queixa chegou à comissão bilateral permanente entre Portugal
e os Estados Unidos (EUA), em dezembro, mas os trabalhadores ainda não
obtiveram resposta e não há prazos estipulados.“Mesmo uma sentença do tribunal volta à comissão bilateral, que não tem prazo para aplicar a sentença”, explicou o sindicalista.No
final da 50.ª reunião da comissão bilateral, realizada na ilha
Terceira, em dezembro, o vice-presidente do Governo Regional dos Açores,
Artur Lima, disse que os norte-americanos reconheceram que existia "um
problema a nível laboral na base das Lajes" e mostraram "disponibilidade
para mexer nas tabelas salariais". Questionado sobre esta disponibilidade dos Estados Unidos, Vítor Silva disse que até ao momento “não teve qualquer efeito”.A
solução encontrada para os graus mais baixos foi a aplicação de um
suplemento salarial, que poderá provocar “uma discriminação”, segundo o
coordenador do SITACEHT/Açores.“Qualquer
trabalhador que entre, neste momento, para a base das Lajes, vai ter um
acerto com o salário mínimo, enquanto os trabalhadores que já estão lá
há 10, 15, 20 e mais anos continuam a ganhar exatamente a mesma coisa”,
salientou.Uma das soluções defendidas por
Vítor Silva é a retoma do inquérito salarial, que determinava as
atualizações salariais na base das Lajes com base na média de aumentos
de um grupo de empresas dos Açores e dos EUA.Em
alternativa, o sindicalista propõe que se igualem os vencimentos dos
trabalhadores portugueses aos dos norte-americanos que desempenham as
mesmas funções ou que a tabela salarial seja revista na íntegra, tendo
em conta os aumentos do salário mínimo nos Açores.“Tem
de ser encontrada uma solução que se reflita em toda a tabela salarial.
Tem de ser encontrada uma solução em que não tenhamos de andar, ano
após ano, a mendigar aos norte-americanos para aumentarem mais alguns
cêntimos", acrescentou.Vítor Silva apelou
ainda aos candidatos dos Açores à Assembleia da República, que estão em
campanha eleitoral, para que contribuam “de uma forma séria para
resolver esta situação”.