Há dificuldade em distinguir a verdade da mentira
21 de out. de 2019, 17:26
— Lusa/AO online
“As pessoas
têm cada vez mais dificuldade em distinguir a verdade da mentira, porque
a verdade, neste momento, chega-lhes embrulhada com mentiras e as
mentiras chegam-lhes embrulhadas de verdade”, salientou Fernando
Esteves. O diretor do Polígrafo falava no âmbito da publicação do livro “Viral: A Epidemia de Fake News e a Guerra da Desinformação”.Da
autoria de Fernando Esteves e Gustavo Sampaio, diretor-adjunto do
Polígrafo, a obra, editada em 18 de outubro, pretende fazer “um
diagnóstico” a disseminação de informações falsas. Para
o jornalista, as ‘fake news’ mais eficazes são aquelas que partem de um
elemento verdadeiro, sendo manipulado quando chega aos consumidores. “As
mais eficazes 'fake news' são aquelas que têm uma componente
verdadeira. Partem de uma verdade que depois é mascarada e é manipulada
para chegar aos leitores ou aos telespetadores”, realçou Fernando
Esteves.De acordo com o diretor do
Polígrafo, a população portuguesa tem níveis de literacia mediática
muito baixos, revelando algumas dificuldades em interpretar a informação
veiculada nas redes sociais. “O que os
estudos nos dizem é que a população portuguesa tem níveis de literacia
mediática muito baixa, ou seja, tem uma capacidade para compreender a
informação, que lhe chega, nomeadamente através das redes sociais muito
baixa”, anotou.À Lusa, Fernando Esteves alertou ainda para o enfraquecimento dos estados democráticos através da desinformação. “Ao
partilharem falsidades, ao partilharem manipulações, a consequência
direta disso é o enfraquecimento da democracia. A democracia vive do
esclarecimento e da verdade”, referiu o escritor, assegurando que se
deve duvidar de uma informação que é propagada através da Internet ou de
outros meios. As ‘fake news’ abrem um
campo “enormíssimo” à inclusão de discursos populistas na política,
podendo ser uma porta de entrada de uma sociedade distópica, porque as
pessoas deixam de acreditar nas referências da solidez do sistema,
segundo o diretor do Polígrafo. O autor de
“Viral: A Epidemia de Fake News e a Guerra da Desinformação” reconheceu
também que o maior desafio das sociedades modernas é evitar que as
pessoas se tornem cínicas perante a realidade, alertando para alguns
fenómenos políticos recentes, como o líder do partido português Chega, o
Presidente do Brasil e o Presidente dos Estados Unidos.“A
diluição das instituições democráticas proporciona o surgimento de
fenómenos como o André Ventura ou como Jair Bolsonaro, no Brasil, ou
como até Donald Trump, nos Estados Unidos, como Santiago Abascal, em
Espanha, ou Salvini, em Itália. São pessoas que trazem um discurso novo,
um discurso de forte crítica ao sistema estabelecido que só tem lugar
porque as instituições tradicionais se foram diluindo”, considerou.De
acordo com Fernando Esteves, estes fenómenos nascem para ocupar “um
espaço vazio” deixado pelos políticos tracionais e porque “a democracia
não tem sido cultivada como deveria”, observando “sinais evidentes de
erosão do sistema”.“[São] fenómenos que
nascem muitas vezes nas redes sociais. Nascem deste discurso manipulador
e deste discurso populista que depois é partilhado até à exaustão”,
disse o jornalista, sublinhando que as redes sociais “são um canal de
comunicação direto”.No entanto, Fernando
Esteves reconheceu também que a imprensa tradicional deve criar
mecanismos para ganhar mais velocidade no combate à propagação de
mentiras, como apostar em ferramentas de inteligência artificial.