Guterres pede que conflitos não sejam desculpa para evitar responsabilidades
COP27
7 de nov. de 2022, 14:43
— LUSA/AO Online
No
seu discurso perante a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações
Climáticas de 2022 (COP27), Guterres considerou que, apesar dos
múltiplos conflitos que assolam o mundo - como a guerra na Ucrânia ou o
conflito no Sahel -, “as alterações climáticas têm uma escala e uma
linha de tempo diferentes”, já que “constituem a questão definidora da
época” atual e o “desafio central do século”.Por
isso, defendeu ser “inaceitável, escandaloso e contraproducente” deixar
a luta contra as alterações climáticas “em segundo plano”, até porque
“muitos dos conflitos atuais estão relacionados com o crescente caos
climático”.Reconhecendo que a invasão
russa à Ucrânia expôs a dependência do mundo ocidental face aos
combustíveis fósseis e criou uma crise energética no mundo, Guterres
pediu que isso não seja usado como “uma desculpa para recuos” nos
objetivos definidos relativamente ao clima.Estes conflitos devem antes “ser uma razão para ter mais urgência, ação mais forte e responsabilidade efetiva”, disse.O
secretário-geral da ONU afirmou ainda que, face ao aquecimento global e
aos seus cada vez mais rápidos impactos, a humanidade terá de “cooperar
ou morrer”.“A humanidade tem uma escolha:
cooperar ou morrer. É um Pacto de Solidariedade Climática ou um Pacto
de Suicídio Coletivo”, disse António Guterres.A
atividade humana é a causa do problema climático, pelo que “a ação
humana deve ser a solução”, referiu, defendendo que “a confiança” entre
“o Norte e o Sul” tem de ser restabelecida.Guterres
pediu que as economias desenvolvidas e emergentes estabeleçam um “pacto
de solidariedade climática” para que todos os países “façam um esforço
extra para reduzir as emissões nesta década, de acordo com a meta” de
limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus Celsius e atingir emissões
líquidas zero até 2050 em todo o mundo.“Mas
essa meta de 1,5º está ligada à máquina de suporte de vida e a máquina
está a tremer. Estamos perigosamente perto do ponto sem retorno”, disse,
pedindo aos países do G20 (grupo das 19 economias mais desenvolvidas do
mundo e União Europeia) que acelerem a sua transição verde “nesta
década”.Esse pacto de solidariedade
climática também deve garantir que os países ricos e as instituições
internacionais “fornecem ajuda técnica e financeira às economias
emergentes para que estas acelerem a sua própria transição para as
energias renováveis” e “acabem com a dependência de combustíveis
fósseis”.Para isso, é preciso “eliminar o
carvão nos países da OCDE [Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico] até 2030 e em todos os outros até 2040”,
afirmou.O secretário-geral da ONU lembrou
aos Estados Unidos e à China, as duas maiores economias do mundo, que
têm “uma responsabilidade particular de unir forças para tornar esse
pacto uma realidade”, sublinhando que o acordo representa a “única
esperança para alcançar as metas climáticas”.Lembrando
que a população mundial chega oficialmente aos 8 mil milhões de pessoas
em 15 de novembro, Guterres avançou uma questão: “O que diremos quando
esse bebé 8 mil milhões tiver idade suficiente para nos perguntar: o que
fizeram pelo nosso mundo e pelo nosso planeta quando tiveram
oportunidade?”.“Não esqueçamos que a guerra contra a natureza é, em si mesma, uma violação maciça dos direitos humanos”, acrescentou.É
preciso fazer mais para ajudar os países mais vulneráveis a lidar com
as “perdas e danos” já sofridos devido ao aumento das tempestades,
inundações, secas e outros fenómenos climáticos extremos, defendeu.Embora
esta questão seja um dos pontos de negociação mais sensíveis desta
COP27, “a obtenção de resultados concretos sobre perdas e danos será o
teste dos compromissos dos governos para o sucesso” da conferência,
considerou.