Guterres pede flexibilidade e ambição nas negociações finais para cumprir objetivos de Paris
COP28
11 de dez. de 2023, 11:14
— Mariana Caeiro/Lusa/AO Online
"Estamos numa corrida contra o
tempo", disse António Guterres, defendendo que "é tempo para ambição
máxima e flexibilidade máxima". No dia em
que começam as negociações finais na 28.ª Conferência das Nações Unidas
sobre Alterações Climáticas (COP28), a decorrer no Dubai, o
secretário-geral da ONU pediu aos países que não percam de vista os
objetivos assumidos no Acordo de Paris e defendeu que o único caminho é o
fim dos combustíveis fósseis. Adotado em
2015, o Acordo de Paris impôs como objetivos a redução das emissões de
gases com efeito de estufa para a atmosfera e a limitação do aumento das
temperaturas mundiais além de 2ºC acima dos valores da época
pré-industrial, e de preferência que não aumentem além de 1,5ºC.O
primeiro balanço do acordo está a ser feito na COP28, através do Global
Stocktake, cujo texto final deverá ter alguma referência ao fim dos
combustíveis fósseis, um tema que não está, no entanto, a ser consensual
entre as partes.“É essencial que o Global
Stocktake [o principal mecanismo através do qual são avaliados os
progressos efetuados no âmbito do Acordo de Paris] reconheça a
necessidade de iniciar a eliminação de todos os combustíveis fósseis num
período consistente com a meta de 1,5ºC e de acelerar uma transição
energética justa para todos”, afirmou António Guterres, numa declaração
aos jornalistas.Neste momento, estão ainda
em cima da mesa diferentes opções de formulação do que diz respeito ao
tema dos combustíveis fósseis: duas, fortemente contestadas pelos
produtores de petróleo, que referem a eliminação dos combustíveis
fósseis, e outras duas que apontam apenas o fim dos combustíveis fósseis
em que não é possível a captura de carbono, chamados 'unabated'.Insistindo
na eliminação dos combustíveis fósseis alinhada com as metas de Paris,
António Guterres ressalvou, no entanto, que “não significa que todos os
países tenham de eliminar os combustíveis fósseis ao mesmo tempo, mas
que, globalmente, a eliminação tem de ser compatível com a neutralidade
carbónica até 2050 e a limitação do aumento da temperatura a 1,5ºC.Outros
dos aspetos fundamentais, acrescentou o secretário-geral, é a ambição
em relação ao tema da adaptação às alterações climáticas, outra das
matérias menos consensuais nestas negociais.Sobretudo
no que diz respeito ao apoio dos países em desenvolvimento, António
Guterres defendeu um esforço acrescido pelos países entre os maiores
emissores de gases com efeito de estufa, mais financiamento climático,
mas também mecanismos que aliviem a “situação financeira dramática” que
muitos desses países enfrentam.“Uma das
coisas essenciais é que todos os compromissos assumidos por países
desenvolvidos sejam implementados de forma transparente, mas não vamos
resolver os problemas de equidade em relação ao clima apenas com
financiamento climático”, sublinhou.Em
concreto, António Guterres defendeu na arquitetura financeira
internacional, mecanismos de alívio da dívida e o aumento de capital e
mudança do modelo de negócio dos bancos internacionais multilaterais.“Os
próximos dois anos são vitais”, afirmou o responsável, que espera que
os países saiam do Dubai “com uma compreensão clara daquilo que é
exigido entre este momento e a COP30”, que se realiza em 2025 no Brasil.A
COP28 começou em 30 de novembro e está a decorrer até dia 12 no Dubai.
Depois de vários dias com um programa temático, os dias de hoje e
terça-feira serão dedicados apenas às negociações finais.