Guterres diz que "terrível verdade" é que mundo falhou na proteção de civis
23 de mai. de 2023, 19:10
— Lusa
No debate anual
do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) sobre a proteção de
civis em conflitos armados, Guterres apresentou alguns dados que constam
no seu último relatório sobre o tema, datado de 12 de maio, que mostra
que a guerra está a devastar vidas em todo o mundo.De
acordo com o ex-primeiro-ministro português, as armas explosivas
continuam a causar estragos, com 94% das suas vítimas em áreas urbanas a
serem civis."Aqueles que conseguiram
fugir da luta, fizeram-no em números recordes: o número total de pessoas
forçadas a deixar as suas casas devido a conflitos, violência,
violações de direitos humanos e perseguições chegou a 100 milhões",
indicou o líder da ONU."Guerra significa
fome", frisou Guterres, observando que o conflito armado é um
fator-chave que impulsiona a insegurança alimentar em todo o mundo.No ano passado, mais de 117 milhões de pessoas enfrentaram fome aguda principalmente por causa da guerra e da insegurança. "Isto é um ultraje", frisou. "A
terrível verdade é que o mundo não está a cumprir os seus compromissos
de proteger os civis, compromissos consagrados no direito internacional
humanitário", sublinhou Guterres.Em 2022, a ONU registou pelo menos 16.988 mortes de civis em 12 conflitos armados, um aumento de 53% em comparação com 2021.Situações
de conflito em que as vítimas civis aumentaram incluem Ucrânia, Somália
e Palestina, enquanto Iémen e Síria, por exemplo, registaram quedas.As
crianças continuaram a ser particularmente vulneráveis a homicídios,
sequestros, deslocamentos e recrutamento numa variedade de situações de
conflito, enquanto mulheres e meninas representam pelo menos 95% das
vítimas de violência sexual documentada.Numa
referência a conflitos mais recentes, Guterres assinalou o que decorre
no Sudão, descrevendo um cenário em que centenas de civis foram mortos,
cerca de 250 mil fugiram do país, os hospitais foram ocupados e
atacados, o preço das mercadorias quadruplicou em algumas partes do país
e os armazéns com a ajuda humanitária fornecida foram saqueados.Guterres
não deixou de referir outros conflitos que assolam diferentes
geografias, com destaque para a Ucrânia, a Síria, o Afeganistão ou a
Somália.O líder das Nações Unidas
aproveitou para prestar homenagem ao trabalho do Comité Internacional da
Cruz Vermelha: “Enfrentam o perigo e a brutalidade com bravura,
compaixão e humanidade. E sempre terão o meu total apoio".Em
2022, 79 trabalhadores humanitários foram mortos, 43 ficaram feridos e
113 foram sequestrados em 17 contextos de conflito, segundo o relatório
do secretário-geral da ONU. Na mesma
intervenção, Guterres dirigiu apelos aos Governos, para que influenciem
as partes em conflito a envolverem-se no diálogo político e a treinarem
as forças para protegerem os civis."Os
países que exportam armas devem recusar-se a fazer negócios com qualquer
parte que não cumpra o direito humanitário internacional. Aqueles que
cometem crimes de guerra devem ser responsabilizados. Os Estados devem
investigar supostos crimes de guerra, processar os perpetradores e
fortalecer a capacidade de outros Estados para fazê-lo", defendeu."Os
civis sofreram os efeitos mortais do conflito armado por muito tempo. É
hora de cumprirmos a nossa promessa de protegê-los", concluiu António
Guterres.O debate, liderado pelo
Presidente da Confederação Suíça, Alain Berset, contou com a presença de
vários chefes de Estado e ministros.A
embaixadora norte-americana junto à ONU, Linda Thomas-Greenfield,
dirigiu duras críticas ao Presidente russo, Vladimir Putin, pelo custo
humano que a agressão à Ucrânia causou e apelou ao corpo diplomático
para que "nunca se torne insensível a este tipo de violência sem
sentido"."Esta guerra também teve um
impacto devastador em populações vulneráveis em países distantes da
Ucrânia. Milhões e milhões de pessoas foram empurradas para a
insegurança alimentar como resultado desse conflito. Porquê? Porque a
Rússia usou alimentos como arma de guerra na Ucrânia e, por vários
meses, os cereais ucranianos que saíam do Mar Negro foram bloqueados",
acusou a diplomata.As palavras de
Thomas-Greenfield foram contestadas pelo seu homólogo russo, Vasily
Nebenzya, que, por vez, responsabilizou o Ocidente pela insegurança
alimentar que muitos países enfrentam devido às "sanções unilaterais"
que aplica."Como no passado, o nosso país é
um dos principais fornecedores de produção agrícola do mundo, e
conquistamos a reputação de parceiro confiável e previsível, e
pretendemos continuar a trabalhar com esse espírito", disse Nebenzya,
criticando as sanções contra Moscovo.