Guterres denuncia “situação de terror” com operações militares israelitas em Gaza
26 de jul. de 2024, 12:20
— Lusa/AO Online
A campanha
militar está a provocar “o maior impacto de mortes e destruição de que
eu me recorde”, disse Guterres, que aludiu ainda à “natureza caótica”
desta campanha que se reflete nas ordens emitidas pelo Exército
israelita para que os palestinianos abandonem as suas casas e se
desloquem para o centro do enclave, de seguida do centro para o sul, e
de novo de sul para norte. “Em qualquer
momento dizem às pessoas que se desloquem para outro lugar, e as pessoas
deslocam-se em busca de uma segurança que já não existe em qualquer
lugar”, lamentou, numa referência aos 1,9 milhões de palestinianos
retirados dos seus lugares e deslocados, em muitos casos por várias
ocasiões. A esta situação associam-se os
entravas à ajuda humanitária impostos por Israel, que cria “permanentes
obstáculos à negociação e coloca uma dificuldade a seguir a outra” para a
sua entrada e distribuição, alegando motivos de segurança ou de suposto
uso indevido dessas ajudas. Guterres
acusou ainda o Exército israelita de disparar em três ocasiões
distintas, nos últimos cinco dias, em direção a veículos que
transportavam ajuda humanitária. Uma
situação que motivou “total insegurança e total anarquia”, agravada pelo
facto de a “comunidade internacional ter respondido parcialmente” ao
apelo humanitário para Gaza e ter apenas garantido 36% do financiamento
requerido, acrescentou. O secretário-geral
da ONU concluiu ao sublinhar “o modo como [Israel] conduz as suas
operações militares e as circunstâncias dramáticas de distribuição de
ajuda humanitária e que motivaram uma situação de terror humano”. Devido
às suas críticas abertas a Israel, Guterres está a ser boicotado pelo
Governo de Benjamin Netanyahu praticamente desde o início do atual
conflito, com o primeiro-ministro israelita a não atender nenhuma das
suas chamadas nem ter solicitado um encontro durante a sua atual visita
aos Estados Unidos, reconheceu Guterres. Ao
ser questionado sobre as palavras de Netanyahu na quarta-feira no
Congresso sobre o futuro da Faixa de Gaza – desmilitarizada,
desrradicalizada e com controlo israelita sobre a sua segurança –
Guterres apenas referiu que “nada do que se disse merece o meu
comentário”, voltando a defender a solução de dois Estados como a única
possível. A guerra em curso entre Israel e
o Hamas foi desencadeada por um ataque sem precedentes do grupo
islamita palestiniano em solo israelita, em 07 de outubro de 2023, que
causou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns, segundo
as autoridades israelitas.Após o ataque do
Hamas, Israel desencadeou uma ofensiva em grande escala na Faixa de
Gaza, que já provocou mais de 39 mil mortos, na maioria civis, e perto
de 90 mil feridos, bem como um desastre humanitário, desestabilizando
toda a região do Médio Oriente.Em maio, a
ONU declarou que as mulheres e crianças representam pelo menos 56% das
pessoas mortas desde o início do atual conflito, com base em dados do
Ministério da Saúde do Hamas.