Guterres alerta para disparidades salariais e "trabalho doméstico invisível" das mulheres
8 de mar. de 2024, 18:40
— Lusa
Por ocasião do Dia
Internacional da Mulher, hoje celebrado, Guterres discursou num evento
do Conselho Económico e Social das Nações Unidas (ECOSOC), onde
reconheceu que o progresso no sentido da igualdade de género tem sido
demasiado lento e que as mulheres que estão na linha da frente da
mudança podem estar sujeitas a insultos e ataques.Além
de salientar que, em todo o mundo, mulheres e raparigas continuam a
enfrentar forte discriminação e graves violações e abusos dos direitos
humanos, o líder da ONU frisou que o trabalho de cuidador não remunerado
das mulheres é excluído dos cálculos do Produto Interno Bruto (PIB) e
considerado sem valor financeiro, mesmo sendo a “base para economias e
sociedades estáveis".E mesmo quando são remuneradas pelo seu trabalho, as mulheres ganham menos do que os homens, observou Guterres."A
disparidade salarial entre homens e mulheres é de pelo menos 20%, e
muitas vezes maior, dependendo do país e do setor de trabalho",
declarou."Os setores dominados pelas
mulheres, como o ensino e a enfermagem, são mal pagos em todos os
níveis. Politicamente, as mulheres continuam sub-representadas e mal
atendidas. Na Assembleia Geral das Nações Unidas do ano passado, menos
de 12% dos oradores eram mulheres. A mudança está muito atrasada",
lamentou.O ex-primeiro-ministro português
advogou estar em curso uma reação global contra os direitos das
mulheres, que ameaça - e em alguns casos reverte - o progresso tanto nos
países em desenvolvimento, como nos desenvolvidos.O
exemplo mais flagrante, apontou Guterres, é o Afeganistão, onde as
mulheres e as raparigas foram excluídas de grande parte do sistema
educativo, de empregos fora de casa e da maioria dos espaços públicos."É
intolerável que mais de quatro milhões de raparigas em todo o mundo
corram o risco de sofrer mutilação genital feminina todos os anos",
defendeu, manifestando-se "indignado" com a iniciativa parlamentar na
Gâmbia de legalizar esta "prática horrível" e apelando à rejeição da
proposta.Guterres destacou os testemunhos
de violação e tráfico no Sudão, assim como relatos de violência sexual e
indícios de tortura sexualizada durante os ataques de 07 de outubro do
Hamas em Israel, mas também relatos de abusos de detidas palestinianas."Até
2030, mais de 340 milhões de mulheres e raparigas continuarão a viver
na pobreza extrema – cerca de 18 milhões mais do que homens e rapazes.
Isso é um insulto às mulheres e meninas. E um travão a todos os nossos
esforços para construir um mundo melhor", assumiu. De
acordo com a agência ONU Mulheres, são necessários mais 360 mil milhões
de dólares (328,8 mil milhões de euros) por ano para alcançar a
igualdade de género.Entre as
recomendações, Guterres defendeu que os Governos promovam políticas de
cuidados infantis que permitam a mães e pais assumirem trabalho
remunerado fora de casa, assim como a criação de sistemas de proteção
social que atribuam um valor monetário ao trabalho de prestação de
cuidados.Exortou também os Estados-Membros
a apoiarem as propostas da ONU de métricas que vão além do PIB, que
hoje “desconsidera o trabalho doméstico invisível.O
líder da ONU recordou que, para que o progresso seja alcançado, podem
ser necessárias quotas e programas específicos para combater
preconceitos enraizados e desmantelar os obstáculos à igualdade. "A
igualdade está atrasada. Para a alcançarmos, temos de combinar a
retórica com os recursos. Devemos investir nas mulheres e nas meninas,
impulsionar o progresso e construir um mundo melhor para todos",
concluiu Guterres no Dia Internacional da Mulher.