Guerra perturbou educação de cinco milhões de crianças
Ucrânia
24 de jan. de 2023, 08:46
— Lusa/AO Online
Na data em que se assinala o
Dia Internacional da Educação, o Fundo das Nações Unidas para a
Infância (UNICEF) veio chamar a atenção para a importância de “um maior
apoio internacional para garantir que as crianças não ficam mais para
trás”, recordando que “o impacto de 11 meses de conflito veio agravar os
dois anos de aprendizagem perdidos devido à pandemia de covid-19” e as
consequências de “mais de oito anos de guerra para as crianças do leste
da Ucrânia”.“As escolas e outras entidades
de educação de ensino pré-escolar proporcionam um sentido essencial de
rotina e segurança às crianças, e a falta de aprendizagem pode ter
consequências para toda a vida”, sublinhou Afshan Khan, diretora
regional da UNICEF para a Europa e Ásia Central, citada no comunicado da
organização."Não há botão de pausa.
Simplesmente não é uma opção adiar a educação das crianças e voltar a
ela quando outras prioridades tenham sido abordadas, sem arriscar o
futuro de uma geração inteira”, insistiu.Segundo
a agência especializada da ONU, “o uso continuado de armas explosivas -
inclusive em zonas habitadas - significou que milhares de escolas,
pré-escolas e outras instalações de educação em todo o país foram
danificadas ou destruídas” e, ao mesmo tempo, “muitos pais e prestadores
de cuidados estão relutantes em enviar crianças para a escola devido a
preocupações de segurança”.No comunicado, a
UNICEF precisa que “dentro da Ucrânia, está a trabalhar com o Governo
para ajudar a levar as crianças de volta ao ensino” - nas salas de aula,
quando estas são consideradas seguras, ou através de alternativas
‘online’ ou na comunidade, “se a aprendizagem presencial não for
possível”.A organização indica que, até há
pouco tempo, “mais de 1,9 milhões de crianças tinham acesso a
oportunidades de aprendizagem ‘online’ e 1,3 milhões de crianças estavam
inscritas num sistema híbrido de aulas presenciais e ‘online’”, mas os
recentes bombardeamentos de centrais elétricas e outras infraestruturas
energéticas “causaram apagões generalizados e deixaram quase todas as
crianças na Ucrânia sem acesso permanente a eletricidade, o que
significa que mesmo assistir a aulas virtuais é um desafio constante”. Fora
da Ucrânia, prossegue a UNICEF, a situação “é igualmente preocupante,
estimando-se que duas em cada três crianças refugiadas ucranianas não
estejam atualmente inscritas no sistema educativo do país de
acolhimento”.De acordo com a agência da
ONU, vários fatores contribuem para este cenário, entre os quais
estruturas educativas sobrecarregadas e “o facto de, no início da crise e
durante todo o verão, muitas famílias refugiadas terem optado pela
aprendizagem ‘online’, em vez de frequentarem escolas locais, porque
esperavam poder regressar rapidamente a casa”. No
interior da Ucrânia, a organização apela para o “fim dos ataques às
instalações de educação e outras estruturas civis, incluindo as
infraestruturas energéticas, de que dependem as crianças e as famílias”.
Nos países de acolhimento de refugiados, a
UNICEF apela para que se dê prioridade à “integração das crianças
refugiadas ucranianas nos sistemas de educação nacionais em todos os
níveis de ensino, especialmente na educação infantil e no ensino
primário - com professores qualificados, materiais de aprendizagem e
espaços disponíveis para apoiar a sua aprendizagem presencial,
desenvolvimento e bem-estar”, lê-se ainda na nota.“É
importante que as autoridades relevantes identifiquem e ultrapassem as
barreiras regulamentares e administrativas que impedem o acesso das
crianças à educação formal a todos os níveis, e forneçam informação
clara e acessível às famílias refugiadas”, frisou a organização,
acrescentando que “quando o acesso ao sistema educativo não pode ser
imediatamente assegurado, a UNICEF apela para a disponibilização de
múltiplos percursos de aprendizagem, especialmente para as crianças em
idade de frequência do ensino secundário”.A
ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na
Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas – 6,5
milhões de deslocados internos e quase oito milhões para países europeus
-, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta
crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945).Neste momento, 17,7 milhões
de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de
ajuda alimentar e alojamento.