Guardas prisionais temem contágio nas cadeias por falta de normas de proteção
Covid-19
23 de mar. de 2020, 16:21
— Lusa/AO Online
A afirmação é de Jorge Alves,
presidente do Sindicato do Corpo da Guarda Prisional que diz que o medo
se está a apoderar dos guardas e critica a “falta de estratégia da
Direção-Geral e a divulgação de informação para as cadeias a conta
gotas”, nomeadamente, numa necessária alteração dos horários para
reduzir a circulação de guardas.“Nas
cadeias os guardas não têm meios de proteção individual contra o
coronavírus e estão impedidos de usar equipamento próprio para não criar
alarme social entre os reclusos determinou o diretor-geral dos Serviços
Prisionais”, contou à Lusa.Até ao
momento, os reclusos mantêm as suas rotinas normais, vão ao ginásio,
jogam à bola nos pátios das cadeias ou vão à biblioteca, apenas não têm
aulas nem visitas.A ministra da Justiça
tinha referido no parlamento, no dia 10 de março, que estavam suspensas
ou reduzidas as visitas em várias prisões, tendo-se compensado essas
restrições com o aumento de telefonemas dos reclusos.O
presidente do sindicato afirma que houve cadeias cujas visitas
terminaram na última segunda-feira e que, há cerca de uma semana e meia,
em dois estabelecimentos prisionais, um na zona centro e outro na zona
sul, "estiveram 70 pessoas numa sala sem distância de segurança".Outra
das críticas do sindicato prende-se com a criação de dois espaços –
para reclusos e guardas - isolados e com circulação de ar para casos
suspeitos. Porém, segundo o dirigente sindical, "muitas cadeias não têm
condições para os criar". “No EP Lisboa o
local identificado para conter os reclusos, caso seja necessário, foi o
refeitório da enfermaria e numa cadeia a norte o espaço destinado aos
guardas é um quarto sem janela”, contou.Outra
das discordâncias do sindicato sobre as orientações para conter o
contágio do coronavírus prende-se com a entrada de roupa nos
estabelecimentos prisionais e que os guardas têm de revistar antes de
ser entregue aos presos.“As revistas em
relação à roupa mantêm-se igual. As pessoas fazem fila à porta dos
estabelecimentos, que não têm qualquer indicação à entrada sobre a
distância de segurança, a roupa é entregue aos guardas em sacos de
plástico e os têm de revistar”, referiu.O
dirigente sindical teme que comece a acontecer nas cadeias, onde há um
ajuntamento de pessoas em espaços confinados, o que está a acontecer nos
lares de idosos.“Estamos muito receosos
porque não se pode fechar uma cadeia. As medidas profiláticas de
contenção tinham de ser mais exigentes e estrategicamente pensadas”,
frisou Jorge Alves, adiantando que está a ser medida diariamente a
temperatura aos reclusos, mas que os guardas entram e saem do espaço
“sem qualquer controlo sanitário”.As
últimas estatísticas da direção Geral de Reinserção e Serviços
Prisionais apontam para 11.863 pessoas detidas nas cadeias, a 15 de
março. A Lusa pediu esclarecimentos ao
Ministério da Justiça sobre a situação nas cadeias devido à pandemia
Covid-19 mas ainda não obteve resposta.