Guardas prisionais alertam para riscos nas prisões devido à falta de efetivo
5 de mar. de 2024, 15:40
— Lusa
Em conferência de
imprensa conjunta dos sindicatos que representam as chefias e guardas
prisionais, as estruturas sindicais alertaram para a insuficiência de
quadros, pediram um subsídio de missão semelhante ao atribuído à Polícia
Judiciária e alertam para o risco de “uma tragédia” nas prisões
portuguesas. Segundo Carlos Sousa, do
Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (SNCGP), o quadro de
pessoal, pensado para uma população de 10 mil reclusos, menos três mil
do que a que existe, é de 4.977 elementos e só existem 3.885 guardas no
ativo, um número que irá ser reduzido em menos sete centenas por motivos
de reformas previstas até ao final do ano. “As
várias tutelas não cuidaram de reforçar o mapa de pessoal nem de
completar sequer o mapa de pessoal”, afirmou Carlos Sousa, recordando
que Portugal tem sido condenado, nas instâncias internacionais, pela
falta de condições das prisões. Nesse
sentido, alertou, “as condições de reclusão de uns são as condições de
trabalho de outros, as condições de trabalho do corpo da guarda
prisional neste caso”. Por isso, “se vier a
acontecer alguma coisa de grave nos estabelecimentos prisionais de
Portugal, não se deve ao corpo da guarda prisional, mas sim a quem não
cuidou da coisa pública, reforçando o corpo da guarda prisional e
cuidando das instalações”.“Nós temos
cadeias em Portugal continental e nos Açores e na Madeira que funcionam
durante a noite com dois, três guardas”, face a “cem, duzentos,
trezentos reclusos”, acrescentou, salientando que “o sistema prisional
está um caos, está um caco” e “todos os organismos envolvidos no
Ministério da Justiça são cúmplices na maneira a que isto chegou, uns
por ação outros por omissão”.Por seu
turno, Hermínio Barradas, da Associação Sindical de Chefias do Corpo da
Guarda Prisional (ASCCGP), recordou que em 2017 foi aprovado e publicado
pelo Ministério da Justiça um plano plurianual a 10 anos, um “caminho
de investimento que estava decidido” mas nunca foi cumprido por
políticos “hábeis e pródigos em inaugurações e apresentações pomposas de
projetos-piloto, esquecendo seletivamente de apresentar resultados”.Os
governantes construíram “uma narrativa de estabilidade prisional,
estiveram a politizar consciente e intencionalmente” o setor e hoje “não
têm soluções e aguarda-se a tragédia, o colapso, o caos”, avisou
Hermínio Barradas. Segundo o oficial, “o
que resta do corpo da guarda prisional estará presente e firme, ou não, a
fazer o possível com os recursos deploráveis que o Governo lhe atribui,
não garantindo resultados e muito menos eficiência ou eficácia”.Hoje,
os estabelecimentos prisionais funcionam “em serviços mínimos
permanentes apenas com recurso abusivo a guardas de folga e a trabalho
suplementar”, salientou o dirigente. Os
dirigentes sindicais consideram que o subsídio de missão seria algo que a
tutela deveria atribuir aos guardas prisionais, que têm uma “missão
perigosa, de contacto permanente com uma população alvo beligerante,
maioritariamente beligerante”, afirmou Carlos Sousa. Como
exemplo, Hermínio Barradas recordou que, no ano passado, foram
apreendidas cinco vezes mais armas brancas nos estabelecimentos
prisionais que há dois anos, mostrando que “não há vigilância”
suficiente e existem casos de “coação e extorsão” entre os detidos. Além disso, assiste-se a “uma capacidade organizativa completamente diferente da população prisional”. O
dirigente do SNCGP, Frederico Morais, alertou também para o número de
agressões a guardas, (63 em 2022, 20 em 2023 e dez até ao momento em
2024).“Tornou-se banal agredir guardas
prisionais” com a “falta de ação da direção dos serviços prisionais” que
depois não dá seguimento aos processos, uma tendência que permitiu a
libertação precária de um recluso com processos por agressões.Neste
caso, exemplificou, “o tribunal de execução de penas foi enganado pelos
serviços prisionais, permitiu a saída de um recluso em precária, com um
processo pendente de pena de prisão”.Os
dirigentes sindicais admitem outras formas de luta se o novo Governo não
ouvir estas reivindicações, nomeadamente o recurso à greve. Depois
de 10 de março, será dado um “prazo razoável, razoavelmente curto,
porque todos os partidos políticos do chamado arco da governação
conhecem os nossos problemas a fundo e não precisam de muito tempo para
passagem de pastas”, explicou Carlos Sousa.