Gravidez tardia e doenças graves são factores deteminantes nas mortes maternas
27 de dez. de 2019, 10:41
— Lusa/AO Online
A
DGS registou 15 mortes em 2018, 11 em 2017, com a diretora-geral da
Saúde, Graça Freitas, a referir que “existe uma certa estabilidade” nos
números que “são pequenos”. Para fazer a
análise das causas das 26 mortes, uma equipa de médicos deslocou-se em
junho e julho aos hospitais para, “com todo o sigilo e respeito por
estas mortes”, analisar os processos clínicos, disse Graça Freitas, que
apresentou as conclusões da análise aos óbitos maternos ocorridos em
2017 e 2018. "Feita toda a análise
estatística encontraram-se dois padrões muito importantes: Mulheres que
engravidam depois de 35 anos e mulheres relativamente jovens ou mesmo
jovens, mas portadoras de doenças graves", salientou.
De acordo com a diretora-geral da Saúde, o padrão das mulheres mais
velhas já era conhecido. "Estas mulheres têm uma característica
interessante em relação às outras. Habitualmente levam a gravidez até ao
termo e bastantes destes óbitos ocorrem depois do puerpério”, que é
contabilizado até 42 dias após o parto. O
outro padrão, que constitui uma “novidade epidemiológica”, tem a ver
com mulheres relativamente jovens ou mesmo jovens, mas portadoras de
doenças graves e que, entretanto, engravidaram e morreram durante a
gravidez, adiantou Graça Freitas. “Algumas
destas pessoas nem sabiam que estavam grávidas e tudo ocorreu quando
deram entrada no hospital com uma complicação de uma doença de base que
já tinham”, como cancro, hipertensão, doenças hemorrágicas, doenças
tromboembólicas ou doença pulmonar obstrutiva crónica. Cerca de 40% dos óbitos foram de mulheres mais velhas e a grande maioria dos casos ocorreu em hospitais públicos.“Sendo
a maior parte das mulheres seguidas no público e sendo para onde o INEM
habitualmente as conduz, a grande maioria destes partos ocorreu no
Serviço Nacional de Saúde, sendo que cinco destas mulheres tiveram morte
no domicílio”, revelou.Graça Freitas referiu que os 26 casos são muito dispersos pelo país, dois ocorreram na Madeira em 2018.Questionada
sobre se uma eventual degradação dos cuidados de saúde poderia ter
alguma influência nestas mortes, afirmou que “tudo indica que [as
mulheres] foram bem seguidas e acompanhadas”.Relativamente
aos óbitos ocorridos em 2019, Graça Freitas disse que há uma
contabilização provisória que precisa de ser validada, mas que “serão da
mesma ordem dos anos anteriores”.A
diretora-geral da Saúde defendeu ainda que, “a partir deste conhecimento
aprofundado, que ultrapassa a vigilância epidemiológica”, é preciso
“adaptar os cuidados e melhorá-los sempre em função desta realidade”.Além
da literacia, com a realização de campanhas para que estas mulheres
estejam alerta para o seu estado, o “grande apelo” das autoridades de
saúde é dirigido aos médicos assistentes destas mulheres, aos
cardiologistas, aos internistas, aos médicos de família, aos
enfermeiros.Estas mulheres têm de ser
informadas do risco que correm se engravidarem, incluindo de
mortalidade” e “têm de ser encaminhadas para consultas
pré-concepcionais, incluindo as de planeamento familiar”, sustentou.No
caso de engravidarem, devem ser referenciadas de imediato para
consultas de alto risco em meio hospitalar e serem seguidas por equipas
multidisciplinares.“O parto terá de
ocorrer de acordo com o seu nível de gravidade e têm de ser acompanhadas
depois do parto porque algumas delas morreram no puerpério”, advertiu.Segundo Graça Freitas, “são fenómenos que estão para durar” e são comuns a todos os países desenvolvidos. No
futuro, anunciou, vai ser criada uma comissão de acompanhamento, bem
como sistemas de alerta para quando ocorre uma morte materna e os
médicos vão voltar a ser incentivados para preencher um inquérito
epidemiológico quando ocorre um caso.“Temos de perceber se a comunicação entre os prestadores de cuidados e estas mulheres está a fluir”, rematou.