Governo Regional e Gulbenkian fazem jornadas sobre Antero, figura maior dos Açores
4 de out. de 2017, 08:51
— Lusa/AO Online
“Há sempre uma razão, há inclusivamente
sempre muitas razões para evocar a obra e a vida de Antero de Quental,
porque, nos Açores, histórica e culturalmente, ele foi o nosso maior”,
afirmou hoje à agência Lusa o secretário regional da Educação e Cultura,
Avelino Meneses.Avelino Meneses disse que José Bruno Carreiro,
que foi biógrafo do escritor, chamou-lhe “a nossa maior glória, porque,
em Portugal, também como disse António Sérgio, ele é o maior poeta
depois de Camões e, internacionalmente -, ou seja, fora do arquipélago,
fora do país -, ombreou com nomes grados da cultura europeia”, como
Michelet ou Miguel de Unamuno.O último “chegou a dizer que, na
grande Espanha, não havia nada que se assemelhasse a Antero de Quental”,
adiantou o governante, observando existir outra razão para a
organização das jornadas - a passagem dos 175 anos sobre o nascimento de
Antero de Quental (Ponta Delgada, 1842-1891).As jornadas, a 07 e
08 de novembro, na Biblioteca e Arquivo Regional de Ponta Delgada,
contam com palestras de oito investigadores, “todos especialistas em
temas correlacionados com Antero”.Da região, participam António
Machado Pires, “anterianista de renome” que em 1991 organizou na
Universidade dos Açores o Congresso Anteriano Internacional, para
assinalar o centenário da morte do poeta, recordou Avelino Meneses.A
este juntam-se outros três autores dos Açores, ligados ou que já
estiveram ligados àquela universidade, Urbano Bettencourt, Ana Cristina
Gil e Magda Carvalho.“Do exterior vem Eduardo Lourenço, que é o
principal pensador português vivo, Ana Maria Almeida Martins, maior
especialista na obra de Antero de Quental, Luiz Fagundes Duarte, que
ainda recentemente publicou um livro sobre temas anterianos, e Guilherme
d’Oliveira Martins, que foi ministro, durante muitos anos presidente do
Conselho Nacional de Cultura e uma figura importante da cultura
portuguesa”, acrescentou.Para o secretário regional, como “de
jornadas, de colóquios, de congressos deve resultar sempre alguma
semente, algo que fique para a posteridade, de certa forma uma súmula de
reflexões”, acredita que esta iniciativa venha “a ter prolongamento
numa publicação de resultados”.Antero Tarquínio de Quental nasceu
em Ponta Delgada, no seio de uma família ilustre, descendente dos
primeiros povoadores da ilha de São Miguel.Considerado um dos grandes sonetistas da literatura portuguesa, publicou a sua primeira obra, “Sonetos de Antero”, em 1861.Formado
em Direito pela Universidade de Coimbra, trabalhou numa tipografia,
fundou "A República - Jornal da Democracia Portuguesa", em 1870, e, com
os protagonistas da Geração de 70 (que em Lisboa viria a tomar o nome do
grupo do Cenáculo), a que pertencia, como Eça de Queirós, Oliveira
Martins e Ramalho Ortigão, organizou a série de conferências
democráticas do Casino Lisbonense, as chamadas "Conferências do Casino",
que acabaram proibidas após a quinta sessão.Avelino Meneses
adiantou que Antero de Quental, “um homem do século XIX, tornou-se
intemporal”, porque parte da sua luta “ainda é a luta do nosso tempo”,
sobretudo “no que diz respeito ao propósito anteriano muito vincado de
aproximação de um Portugal mais atrasado a uma Europa mais evoluída”.O
secretário regional destacou que, na sua curta vida, Antero de Quental
foi “um homem inovador, um homem que, através da aproximação ao
pensamento europeu, introduziu ideias novas em Portugal”, como “a
difusão do primitivo ideário socialista”, sobretudo inspirado em
Pierre-Joseph Proudhon, e para “a revelação de aspirações republicanas
que, 20 anos após a morte dele, vieram a vingar no 05 de Outubro e na
Implantação da República”.