Governo quer tornar a profissão docente mais atrativa, mas mudanças só após eleições
17 de nov. de 2021, 15:38
— Lusa/AO Online
Reconfigurar a formação inicial
com estágios em contexto escolar, apostar na profissionalização em
serviço ou fazer alterações no regime de recrutamento são algumas das
propostas para melhorar a atratividade da profissão docente apresentadas
hoje pela secretária de Estado da Educação.As
medidas respondem aos resultados de um estudo de diagnóstico de
necessidades docentes, também divulgado hoje, que estima que até
2030/2021 seja necessário contratar 34.508 novos docentes face à
tendência, que deverá ser ainda mais acentuada, de falta de professores.“Perante
o diagnóstico que aqui foi trazido, traçamos um plano que se estrutura
em três linhas de ação: formação inicial, habilitação para a docência e
recrutamento”, começou por anunciar Inês Ramires, da sequência da
apresentação do estudo da Universidade Nova de Lisboa.Relativamente
à formação inicial, a intenção do Ministério da Educação é implementar,
em colaboração com as instituições de ensino superior, a iniciação à
prática profissional com ensino supervisionado em contexto escolar.A
ideia é que o segundo ano do mestrado seja dedicado a um estágio
profissional em contexto escolar, com a componente teórica a funcionar
em regime de ensino a distância para que os estudantes possam ser
colocados por todo o país.“Esta proposta,
quanto a nós, permitirá uma melhor integração dos futuros docentes na
prática profissional e na escola porque haverá uma interação muito
próxima e permanente do ensino supervisionado com os docentes que
orientam estes estagiários”, sublinhou.Por
outro lado, no âmbito da habilitação para a docência, o Ministério da
Educação pretende rever as habilitações para os grupos de recrutamento,
bem como a lista dos cursos que conferem habilitação própria, algo que
não é feito desde 2006.“Nunca estará em
causa colocar em perigo a formação científica adequada para as áreas
disciplinares dos diferentes grupos de recrutamento, mas através das
necessidades temporárias teremos a entrada nas escolas de profissionais
com esta formação científica adequada e então o nosso foco será a aposta
na profissionalização em serviço”, explicou Inês Ramires.Essa
profissionalização acontecerá também através de estágios e o objetivo
é, segundo a secretária de Estado, “ajustar as competências dos
profissionais às exigências didáticas pedagógicas do ambiente escolar”.Já
no âmbito do recrutamento, uma questão que foi recentemente alvo de
discussão com os sindicatos e diretores escolares, o plano do Governo
parte da ideia de que a atratividade da carreira está associada à
estabilidade no acesso à carreira.Por
isso, os professores poderão entrar diretamente em quadro de agrupamento
ou de escola, mantendo a possibilidade de entrar em quadro de zona
pedagógica para os docentes que assim preferirem. Em qualquer cenário,
acrescenta a responsável, terá estabilidade e uma previsibilidade que
favorece igualmente as próprias escolas.Está
ainda previsto o aumento do número de quadros de zona pedagógica e a
redução da sua dimensão, bem como a alteração dos intervalos de horários
relativos a necessidades temporárias, de forma a permitir uma adequação
às regras de contagem do tempo de serviço para efeitos de prestações
sociais.Segundo o ministro da Educação,
que também esteve presente na sessão, este conjunto de medidas vem
complementar o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo Governo
desde 2015, e Tiago Brandão Rodrigues sublinhou como exemplo a redução
do intervalo entre reservas de recrutamento, que agora são semanais, ou a
vinculação de 11 mil docentes nos últimos seis anos.No
entanto, a realização de eleições legislativas antecipadas, convocadas
pelo Presidente da República para 30 de janeiro na sequência do chumbo
do Orçamento do Estado para 2022, obrigou à suspensão da implementação
das mudanças apresentadas.“O Governo tem,
neste momento, todas as condições formais para governar, mas existem
questões em concreto que estão aqui em cima da mesa porque têm de ser
feitas, queremos fazê-las, mas precisamos de condições para isso”,
afirmou Tiago Brandão Rodrigues, justificando que estão em causa
matérias complexas, com implicações orçamentais, que implicam uma
negociação “com densidade e continuidade”.Ainda
assim, o ministro da Educação afirmou que vai continuar a trabalhar no
sentido de aprofundar estas questões com efeitos na atratividade da
carreira docente, para que quem quer que assuma a pasta da Educação após
30 de janeiro possa recuperar esse trabalho e implementar as medidas
propostas, se assim o entender.“Esta é a
rota que seguiríamos caso não fosse interrompida pela existência de uma
ato eleitoral em breve (…) Agora, é importante trabalharmos entretanto”,
reforçou em resposta à pergunta se as medidas apresentadas hoje
estariam traduzidas no programa do PS às legislativas.