Governo francês admite avançar com autonomia da Córsega
16 de mar. de 2022, 14:33
— Lusa/AO Online
A
possibilidade de um estatuto que permita à ilha no Mar Mediterrâneo uma
maior independência em relação a Paris foi anunciada pelo ministro do
Interior, Gérald Darmanin, em entrevista ao jornal "Corse Matin". O
ministro, que estará na Córsega hoje e quinta-feira, disse que o
Presidente Emmanuel Macron "está pronto a ir até à autonomia" caso ganhe
o segundo mandato nas eleições de abril."Depois é preciso ver no que é que consiste esta autonomia. É preciso que discutamos", adiantou Gérald Darmanin.Na
última semana, após um ataque brutal a Yvan Colonna - um
independentista corso condenado pelo assassínio do prefeito do sul da
Córsega em 1998 - na prisão onde estava a cumprir pena, a ilha voltou a
sentir a força dos independentistas, que defendem a inocência de Colonna
e reclamam mais autonomia para o território.Segundo
o Ministério Público francês, Yvan Colonna terá sido vítima de um
recluso muçulmano radicalizado que estava na mesma prisão e continua
internado em estado grave num Hospital em Marselha.Darmanin reconheceu que a República deve proteger melhor os seus reclusos.Os
protestos começaram em Ajaccio, a capital da Córsega, e propagaram-se a
toda a ilha. Dezenas de polícias ficaram feridos em noites consecutivas
de violência, edifícios públicos foram incendiados e escolas foram
bloqueadas. Januário Monteiro, um antigo
dirigente associativo português em Porto Vecchio, disse à agência Lusa
que os principais confrontos aconteceram em Ajaccio, mas que perto da
sua cidade as escolas foram bloqueadas.A
visita de Gérald Darmanin visa acalmar os ânimos. A violência dos
protestos na Córsega era habitual até aos anos 2000, mas não nos últimos
tempos."Há quinze anos as coisas eram
mais tensas. A Córsega é um sítio especial e as autoridades têm de
pensar muito bem naquilo que fazem, são situações delicadas", explicou
Januário Monteiro, que se instalou na Córsega em 1979.Desde
o século XVIII que a Córsega está sob controlo da França, tendo sido
primeiro administrada pelas autoridades francesas e depois anexada
devido à falta de pagamento dos genoveses que detinham a ilha. Desde
então, sucessivas vagas de independentistas têm lutado por uma maior
autonomia, para o qual se organizaram politicamente.A
Córsega já possui um "estatuto particular", atualizado pela última vez
em 2018, que lhe confere mais competências do que a maior parte das
regiões em França. Tem um presidente do Conselho Executivo, a sua
própria Assembleia, poder de decisão sobre os transportes dos bens.No
entanto, a Córsega continua a insistir num estatuto autónomo mais
alargado, à semelhança do que possuem outras ilhas europeias como as
italianas Sardenha e Sicília, as espanholas Baleares e Canárias ou as
portuguesas Madeira e Açores.