Governo espanhol acaba com delito de sedição que condenou independentistas catalães
11 de nov. de 2022, 15:59
— Lusa/AO Online
A
reforma do delito de sedição na legislação espanhola era uma promessa do
primeiro-ministro, o socialista Pedro Sánchez, desde que tomou posse,
mas o líder do Governo justificava até há poucas semanas que não tinha
avançado ainda por falta de uma maioria no parlamento suficiente para a
aprovação.O próprio Sánchez disse agora,
num entrevista à televisão espanhola La Sexta, que "nas últimas semanas"
diversos grupos parlamentares manifestaram apoio à reforma e que está
formada a maioria necessária.A proposta de
reforma do Código Penal foi entregue hoje no Congresso dos Deputados
(parlamento), em Madrid, e é uma iniciativa conjunta dos partidos que
integram a coligação no governo, socialistas e Unidas Podemos
(extrema-esquerda).A iniciativa conta já com o apoio assumido de nacionalistas e independentistas bascos e catalães.A
proposta acaba com o delito de sedição, faz uma nova tipificação dos
crimes de desordem pública e cria uma "modalidade agravada de desordens
públicas", como se lê na "exposição de motivos" da iniciativa entregue
hoje no parlamento espanhol.Se a sedição
previa penas de prisão de até 15 anos, o de “desordens públicas
agravadas” estabelece um máximo de 5 anos, aligeirando ainda as
condenações relativas à proibição de exercício de cargos públicos.O
texto argumenta, repetindo aquilo que tem sido dito pelos defensores
desta mudança, que o delito de sedição foi introduzido na legislação
espanhola em 1822 e a sua redação se mantém praticamente inalterada
desde então, sendo um crime que não existe nos códigos penais de países
europeus "do contexto" de Espanha e que não está ajustado a uma
democracia como a espanhola.A sua recente
aplicação, na sequência da tentativa de autodeterminação e independência
da Catalunha em 2017, demonstrou o desajustamento da realidade atual,
segundo os defensores e autores da proposta, que argumentam que
configura até uma limitação de direitos fundamentais como a liberdade e
expressão e de reunião.A revisão agora
proposta, quando aprovada, dará a Espanha um Código Penal similar, nesta
matéria, a países como Alemanha, França, Itália, Bélgica ou Portugal,
lê-se na iniciativa hoje entregue no parlamento espanhol.Nove independentistas catalães foram condenados após 2017 por sedição a penas de prisão e proibição de exercer cargos públicos.Este
é também um dos delitos por que está acusado o presidente de então do
governo regional da Catalunha, Carles Puigdemont, que nunca foi julgado
por ter fugido para a Bélgica, onde vive.Juízes,
juristas e políticos espanhóis têm afirmado que Puigdemont e outros
dirigentes catalães nunca foram detidos e extraditados pelas autoridades
belgas ou alemãs, como pede Espanha, por causa precisamente do delito
de sedição inscrito no Código Penal espanhol, que outros países europeus
não reconhecem.Carles Puigdemont “terá de
prestar contas" à justiça espanhola porque "os delitos cometidos em
2017 continuam a estar presentes no Código Penal, já não como delitos de
sedição, mas com uma nova tipologia de delitos que se chama desordens
públicas agravadas", sublinhou Sánchez na entrevista ao canal La Sexta.O
primeiro-ministro defendeu ainda que se surgirem novos desafios à
Constituição de Espanha, como aconteceu em 2017 na Catalunha, o Estado
não estará mais debilitado, "pelo contrário, porque vão reconhecer-se
penas por esses delitos, comparáveis com as principais democracias
europeias".Sánchez sublinhou que "o
independentismo não pede uma reforma do Código Penal, mas a amnistia",
algo que o Governo espanhol "não vai aceitar" e que "não entra" na
Constituição.O Governo espanhol tem
contado no parlamento com o apoio dos independentistas bascos e
catalães, que viabilizaram a tomada de posse do executivo e com os quais
Sánchez tem negociado a aprovação de diversas leis, incluindo o
Orçamento do Estado.Os deputados
socialistas e ministros já negaram que a reforma do Código Penal esteja
relacionada com a negociação e debate em curso no parlamento do
Orçamento de 2023, como denunciou a oposição de direita.