Governo e sindicatos mantêm braço-de-ferro na contagem do tempo de serviço dos professores
6 de dez. de 2018, 10:18
— Lusa/AO Online
Mário
Nogueira, visivelmente irritado, falava aos jornalistas à saída de uma
reunião, ao final da tarde no ME, em Lisboa, com as secretárias de
Estado Adjunta e da Educação, Alexandra Leitão, e da Administração e
Emprego Público, Fátima Fonseca, e as dez associações sindicais da
plataforma negocial dos professores.“Acabámos
de sair da reunião mais absurda que se pode imaginar. A reunião de hoje
foi um absurdo, uma verdadeira anedota, porque chamar-nos para dar já
resposta a uma lei que não existe - e essa forma de responder é
exatamente aquilo que não mereceu acordo e que até levou a Assembleia a
aprovar novamente a norma - é ridículo”, declarou.O
sindicalista referiu que a Assembleia da República voltou a aprovar
para o Orçamento do Estado de 2019 (OE2019) a norma de 2018, por
considerar que o decreto de lei aprovado pelo Governo não respondia à
norma e que “o Governo responde a esta norma, que é reescrita, com o
mesmo decreto de lei”.“Fomos
chamados pelo Ministério da Educação, não tínhamos expectativa, mas
tínhamos curiosidade, porque não sabíamos para que era a reunião, mas
foi para nos dizerem que esta reunião vinha no sentido de cumprir o
disposto na lei do OE2019 que, por acaso, só entra em vigor daqui a mais
de um mês”, afirmou.“A
lei do OE2019 diz que tem de haver negociação do prazo e do modo, o
Governo, na sua pressa, sem saber se o Presidente da República promulga
ou não o Orçamento, decidiu convocar uma reunião negocial antes de a
lei vigorar, para dar cumprimento à lei que ainda não existe”,
criticou.Mário
Nogueira assinalou que “o segundo absurdo”, “no sentido de dar
cumprimento à lei e no sentido de dizer que a negociação ia novamente
ter lugar, o Governo apresentou como proposta recuperar dois anos, nove
meses e 18 dias, nos exatos termos em que impôs no decreto de lei
aprovado no dia 04 de outubro passado”.“Alterou
pelo menos uma vírgula? Não alterou, nem que fosse uma vírgula. Isto é
uma provocação às organizações sindicais, isto é uma afronta aos
professores. Dizer que na Madeira e nos Açores recuperam o tempo todo,
mas no continente não é assim, é uma afronta aos professores”, acusou.O
sindicalista vincou ainda que “os anos têm 365 dias em todo o lado, os
professores trabalham três períodos letivos em todo o lado” e que “os
professores têm exatamente a mesma responsabilidade em todo o lado, e
não há Governo nenhum sediado em Lisboa que apague seis anos e meio aos
professores”.“Mas
é que nenhum”, afirmou, sublinhando que os professores não vão desistir
da luta pela contagem do tempo de nove anos, quatro meses e dois dias a
que têm direito por lei e que, caso não aceite isso, “o Governo vai
sofrer, vai sofrer”.“O
que é que vamos fazer? Querem guerra, guerra terão. Vamos pedir de
imediato uma reunião aos grupos parlamentares, para levar a mensagem de
que o Governo hoje desrespeitou também a Assembleia da República, e
pedir uma nova reunião ao Presidente da República, que tem de ter
consciência do que é que se passa nesta casa e vamos reunir as dez
estruturas sindicais para definir o plano de lutas a desenvolver durante
o ano de 2019”, adiantou.O
dirigente sindical sublinhou que “só o prazo e o modo estão em
negociação, o que o Governo não aceita”, pois “só aceita negociar o
prazo e o modo se os sindicatos aceitarem o que não está em negociação,
que é a perda de tempo de serviço”.Já
a secretária de Estado Adjunta e da Educação, Alexandra Leitão,
adiantou que a “reunião teve por objetivo fazer uma nova negociação com
base na proposta do Governo que ainda está em processo legislativo”.“(…)
O que tornámos a constatar foi que os sindicatos se mantêm na sua
posição de intransigência à recuperação integral do tempo de serviço,
tendo, ao contrário, o Governo feito um passo ao propor a recuperação de
dois anos, nove meses e 18 dias”, declarou.A
governante explicou que na negociação do OE2019 na especialidade foi
determinada uma norma igual à de 2018 que determinava a abertura de um
novo processo negocial e que, tendo essa norma já sido aprovada e
estando ainda em curso a aprovação do decreto-lei, entende o executivo
que, até para não protelar mais que os professores recebam o tempo que
está a ser proposto, “era o momento ideal para perceber se haveria
abertura dos sindicatos”.Alexandra
Leitão assinalou ainda que a reunião pretendia ver “se haveria alguma
capacidade de aproximação, tendo em mente que o Governo fez essa
aproximação que levou a chegar do zero aos dois anos e nove meses e o
que se verificou foi que os sindicatos se mantém na exigência dos nove
anos e quatro meses”.Questionada
pela “pressa do Governo em fazer esta reunião”, Alexandra Leitão
justificou que estando em curso o projeto legislativo do decreto-lei
“era bem mais útil fazer esta [reunião] negocial nesse âmbito, para não
atrasar a entrada em vigor do decreto-lei, tendo em conta que o mesmo
irá ser benéfico para os professores”.