Governo dos EUA cancela programa com Instituto Superior Técnico
11 de abr. de 2025, 14:40
— Lusa/AO Online
O
presidente do IST, Rogério Colaço, disse à Lusa que recebeu em 05
de março a comunicação do cancelamento, com "efeito imediato", do
programa "American Corner" e, no mesmo dia, um inquérito com "questões
bastante desadequadas" sobre se o IST colaborava ou não, ou era citado
ou não em acusações ou investigações envolvendo associações terroristas,
cartéis, tráfico de pessoas e droga, organizações ou grupos que
promovem a imigração em massa."O Técnico
respondeu que não iria responder ao questionário porque nao se adequava a
uma instituição de ensino superior pública sujeita a escrutínio público
e legal de um país democrático membro da União Europeia", afirmou
Rogério Colaço.Segundo o presidente do
IST, a comunicação do cancelamento do programa, seguida de um
questionário, cita uma determinação emanada do Departamento de Estado
norte-americano. Em Portugal, os chamados
"espaços americanos" ou "american corners", financiados pelo Governo
norte-americano e que a Embaixada dos Estados Unidos em Lisboa descreve
como "centros de informação e cultura", são seis e funcionam todos em
instituições universitárias.Além do IST,
as universidades dos Açores, Aveiro, Porto (Faculdade de Letras), Lisboa
(Faculdade de Letras) e Nova de Lisboa (Faculdade de Ciências e
Tecnologia) têm estes espaços.No IST, o
"American Corner" funcionava há mais de dez anos e, de acordo com
Rogério Colaço, promovia palestras, encontros e atividades de
"divulgação e de cariz científico".O financiamento anual rondava os 20 mil euros.O
diretor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL),
Hermenegildo Fernandes, disse à Lusa que recebeu o mesmo questionário,
que o deixou estupefacto pela "dimensão do descaramento" das perguntas,
nomeadamente sobre "agendas climáticas", se a instituição tinha
"contactos com partidos comunistas e socialistas" ou "relações com as
Nações Unidas, República Popular da China, Irão e Rússia" e o "que fazia
para preservar as mulheres das ideologias de género".A
faculdade optou igualmente por não responder ao questionário, notando
que "a sua dependência é com as políticas científicas de Portugal e da
União Europeia", adiantou o diretor da FLUL, sem clarificar se o
programa "American Corner" foi cancelado ou não à faculdade, que tem um
"espaço americano" a partilhar instalações próximas com o Instituto
Confúcio, entidade oficial da China que promove a cultura e a língua do
país.Contactada a Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, a direção da instituição
indicou à Lusa, sem mais detalhes, que o "American Corner" é "um projeto
anual que terminará em setembro"."Estamos
a avaliar a hipótese de nos candidatarmos à continuação do projeto ou
não", acrescentou a faculdade numa breve declaração.Das universidades do Porto, Aveiro e Açores não foi possível à Lusa obter esclarecimentos."Temos
excelentes relações com todos os seis 'american corners' e
continuaremos a colaborar numa série de programas e iniciativas que
promovam os nossos objetivos comuns", disse a porta-voz da embaixada
norte-americana em Lisboa, Marie Blanchard, sem responder diretamente a
uma questão da Lusa, mas enaltecendo que os espaços americanos
"demonstram o poder inigualável dos Estados Unidos como líder económico e
de inovação".A Lusa questionou a
embaixada se, no seguimento dos cortes anunciados pela administração
Trump ao financiamento de universidades e agências científicas, o
programa "American Corner" iria ser afetado, e em que moldes. De
acordo com o portal da Embaixada dos Estados Unidos em Portugal, os
"espaços americanos" totalizam mais de 600 em mais de 140 países e estão
localizados, designadamente, em universidades, centros comerciais,
bibliotecas e instalações de embaixadas.