Governo dos Açores tem procurado "rapidez" para instalar porto espacial
17 de dez. de 2021, 11:04
— Lusa/AO Online
“Fomos
confrontados com um legado e estamos a procurar agir com rapidez, mas
sobretudo com sentido muito estratégico”, afirmou o chefe do executivo
açoriano da coligação PSD/CDS-PP/PPM, José Manuel Boleiro, em
declarações aos jornalistas, em Angra do Heroísmo, ilha Terceira, à
margem da cerimónia de receção de uma nova antena de receção de dados no
Air Centre.O presidente do Governo
Regional foi confrontado com as declarações do ministro da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, que acusou os executivos
açorianos de “incompetência” no processo do porto espacial de Santa
Maria.O governante justificava a alteração
à legislação sobre o Espaço que o parlamento açoriano considera colocar
em causa a Constituição e a autonomia regional, levando os deputados
regionais a votarem hoje unanimemente contra a pretensão da República.“Lancei
esta ideia ao então Governo Regional no verão de 2018. Nada aconteceu,
porque a solução não funcionou, houve incompetência local e, sobretudo
falta de humildade no projeto”, disse o ministro.Bolieiro,
que tomou posse em novembro de 2020, assegurou que o Governo Regional
está a “acelerar” o processo, mas teve “impedimentos de contexto”.“Tivemos
um impedimento ultimamente, por causa de um contencioso judiciário que
ultrapassa completamente as decisões e as opções do governo”, apontou.O
chefe do executivo acrescentou que, “resolvido o problema judiciário”, o
executivo açoriano está em condições para lançar um novo concurso
público internacional.Bolieiro salientou que, “ainda este mês”, será aprovada em Conselho de Governo a Estratégia Regional para o Espaço dos Açores.O
governante garantiu que o executivo açoriano estava a trabalhar em
parceria com a Agência Espacial Portuguesa, com o Governo da República e
com a Europa para implementar o porto espacial de Santa Maria, mas “com
defesa autonómica”.“Queremos dar músculo a
este projeto, porque ele é universal e altamente competitivo e queremos
valorizar os Açores nessa centralidade mundial do espaço, da ciência e
das novas tecnologias”, adiantou.No
discurso de encerramento da cerimónia realizada no Air Centre, sedeado
na ilha Terceira, com Manuel Heitor na plateia, Bolieiro reafirmou a
defesa da autonomia regional.“Não abdico
das nossas competências autonómicas para este exercício de integração,
de coautoria e afirmação estratégica, mas sem medo da participação na
globalização, não apenas para receber, mas também para dar e para nos
integrarmos em estratégias universais que nos enriquecem e não nos
diminuem”, frisou.Questionado sobre estas declarações, Bolieiro disse que não teve “intenção de dar recados”, mas sim de fazer uma “afirmação”.“Tão
fortemente como acreditamos na globalização, acreditamos na autonomia e
na descentralização e não prescindimos dos nossos poderes autonómicos,
não para nos afastarmos, mas para nos integrarmos como autores e não
apenas destinatários de decisões”, frisou. “Isto é uma afirmação. Não é recado e vale para tudo”, sublinhou.Na legislação em
vigor, consultada pela Lusa, os licenciamentos de atividades espaciais
nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira são definidos por decreto
legislativo regional”, enquanto o projeto do Governo da República prevê
que os licenciamentos sejam apenas “objeto de consulta ao Governo
Regional”.O Governo da República aprovou
em março de 2019 a criação da agência espacial portuguesa Portugal
Space, com sede na ilha de Santa Maria, nos Açores.Inicialmente
estava previsto que o contrato para a instalação e funcionamento do
Porto Espacial de Santa Maria fosse assinado em junho de 2019, para que
os primeiros lançamentos de pequenos satélites ocorressem no verão de
2021.As duas propostas que chegaram à fase
final do procedimento foram excluídas pelo júri do concurso público e
um dos consórcios impugnou a decisão em tribunal, solicitando, além da
admissão da sua proposta, que não possa ser lançado novo concurso para o
mesmo efeito.A 11 de novembro, Luís
Santos, coordenador da Estrutura de Missão dos Açores para o Espaço,
disse que o projeto do Porto Espacial não foi abandonado pelo Governo
dos Açores, aguardando-se autorização do tribunal para avançar com um
novo concurso, após uma revisão e simplificação do processo.