Governo dos Açores quer rever verbas para habitação
17 de jan. de 2023, 16:09
— Lusa
“O
problema está na verba, está na quantidade, porque a Região Autónoma da
Madeira tem 136 milhões de euros para a habitação, mais do dobro do que a
Região Autónoma dos Açores”, lembrou o governante, durante uma sessão
de perguntas no parlamento açoriano, na cidade da Horta, sobre o acesso à
habitação, promovida pelo deputado independente, Carlos Furtado.Artur
Lima recordou que os 60 milhões de euros inscritos no PRR para resolver
o problema da habitação no arquipélago foram negociados pelo anterior
Governo açoriano socialista, que “achou” que o valor seria suficiente
para resolver “um dos problemas estruturais” da região.“O
que foi considerado no PRR é manifestamente insuficiente e mais
insuficiente se torna agora, com o aumento da inflação, com o aumento do
custo dos materiais, dos juros, de toda essa conjuntura que agora se
vive”, salientou o vice-presidente do executivo de coligação
PSD/CDS-PP/PPM, adiantando que a região vai “insistir junto do Governo
da República, para que sejam revistos não apenas as metas, mas também os
valores” destinados à habitação.Artur
Lima respondia assim a uma questão levantada pela deputada do CDS-PP
Catarina Cabeceiras, que questionou o executivo sobre se os 60 milhões
de euros previstos no PRR eram suficientes para fazer face às carências
habitacionais nos Açores, tendo em conta as dificuldades sentidas por
muitas famílias para acederem a habitação própria.Carlos
Furtado, autor da sessão de perguntas, lembrou que “já não há casas à
venda” no mercado regional a preços acessíveis “porque todas aquelas que
aparecem no mercado têm sido apalavradas pela região”, acusando o
Governo Regional e as câmaras municipais de inflacionarem os valores do
mercado habitacional.“As famílias da
classe média, que já antes não podiam comprar casas de 120 ou 150 mil
euros, nem essas casas conseguem comprar agora, porque o Estado, com
dinheiros públicos, tem vindo a dificultar o acesso das pessoas da
classe média a esse tipo de habitação”, lamentou o ex-parlamentar do
Chega, que passou à condição de independente após divergências com o
líder nacional do partido, André Ventura.Vasco
Cordeiro, antigo presidente do Governo Regional e atual líder
parlamentar do PS, recusou, no entanto, as críticas dirigidas aos seus
executivos, em matéria de promoção de habitação nas ilhas, recordando
que entre 2013 e 2020, “foram investidos 120 milhões de euros na
habitação, na região, de que beneficiaram mais de nove mil açorianos”.“O
PS tem muito orgulho no trabalho feito para a melhoria das condições de
vida de milhares de açorianos”, insistiu o deputado socialista, que
lembrou também o trabalho realizado pelo seu antecessor (Carlos César)
na reconstrução das moradias danificadas pelo terramoto de 1998 nas
ilhas do Faial, do Pico e de São Jorge.Mas,
Sabrina Furtado, deputada do PSD, criticou a postura da bancada
socialista no debate, considerando que para o PS o acesso à habitação,
nos tempos em que estava no Governo, “era um benefício e não um
direito”.“Infelizmente, nos tempos do PS, beneficiava de habitação quem não devia e, quem devia, nem tinha acesso a habitação”, disse.Nuno
Barata, da Iniciativa Liberal, considerou, por outro lado, que o
problema da falta de acesso à habitação nos Açores resulta, em grande
parte, dos “impostos, taxas e licenças” que os proprietários têm de
pagar ao Estado, à região e às câmaras municipais.“Quarenta
por cento do custo da habitação é imposto, taxas e licenças, ou seja, o
Estado leva 40% do valor da construção de uma primeira habitação”,
lamentou o parlamentar liberal, defendendo a adoção de medidas que
ajudem a “desonerar” os proprietários, para que possam “construir mais
barato nos Açores”.Para Vera Pires, do BE,
a solução para os problemas habitacionais no arquipélago passa por “uma
forte aposta na reabilitação do edificado” e pela constituição de uma
“bolsa de habitação pública” para arrendamento a preços acessíveis.Pedro
Neves, deputado do PAN, reconheceu que o dinheiro inscrito no PRR “é
pouco” para os investimentos que são necessários efetuar em matéria de
habitação nas ilhas, mas lamentou que o atual governo de direita não
tenha aplicado bem as verbas previstas nos orçamentos regionais nos
últimos dois anos para esta área.“O
dinheiro que existe é pouco, é verdade, mas não está a ser bem aplicado,
porque, de acordo com a execução financeira da região relativa a 2021,
não ultrapassámos os 64% da reabilitação e renovação habitacional e, em
2022, não ultrapassámos os 56%”, apontou.Paulo
Estêvão, do PPM, elogiou o trabalho desenvolvido pelo atual executivo
na melhoria de condições de acesso à habitação no arquipélago e lamentou
a “situação insustentável” deixada pelos anteriores governos
socialistas, referindo-se a “situações de negligência absoluta” em
processos de licenciamento e registo de imóveis que terá ficado por
concluir em diversos bairros habitacionais da região.José
Pacheco, deputado do Chega, defendeu, porém, que mais do que encontrar
culpados pelos erros do passado é necessário encontrar agora soluções
para as famílias, sobretudo as da classe média que têm dificuldade de
aceso ao crédito bancário para a compra de casa.“Eu
não quero saber dos outros, esses já se foram embora! Quero saber,
atualmente, o que é que este governo tem feito de apoio às famílias,
especialmente à classe média, que programas é que temos para as pessoas
que não têm acesso ao crédito bancário e quando serão implementados
novos programas”, salientou o deputado do Chega, partido que tem um
acordo de incidência parlamentar com o Governo Regional.