Governo dos Açores quer redistribuir POSEI em função da qualidade dos produtos
2 de mar. de 2021, 21:11
— Lusa/AO Online
“Vai
haver uma mudança de paradigma. O POSEI vai deixar de apoiar
quantitativamente as produções e vai apoiar qualitativamente as
produções”, afirmou, em declarações à Lusa, o secretário regional da
Agricultura e Desenvolvimento Rural, António Ventura, à margem de uma
reunião com associações representativas de apicultores na ilha Terceira,
em Angra do Heroísmo.O Programa de Opções
Específicas para o Afastamento e a Insularidade nas Regiões
Ultraperiféricas (POSEI) para 2021, cujas candidaturas se iniciam hoje,
vai manter-se igual, mas em 2022 deverá sofrer alterações na
distribuição de apoios.“Se calhar não faz
sentido continuar a apoiar a produção de carne da maneira que existe,
sem ser um apoio à qualidade das carcaças, se calhar não vale a pena
continuar a apoiar a produção de leite sem rever um apoio aos conteúdos
nutricionais do leite. Em vez de o POSEI apoiar quantidades, vai começar
a apoiar o mérito e a excelência dos produtos”, avançou o governante.Reunido
com os representantes dos apicultores da ilha Terceira, António Ventura
comprometeu-se a “dar um impulso na produção, na transformação e na
comercialização do mel nos Açores”.“Temos 455 apicultores na região, o mel dos Açores está todo vendido e precisamos de incentivar esta mesma produção”, frisou.Segundo
António Ventura, a procura é superior à produção e, por isso, o
executivo açoriano vai alterar o regime jurídico da apicultura, rever o
plano estratégico apícola e criar incentivos à produção de mel,
reforçando os apoios concedidos ao abrigo do POSEI e criando um
“contrato multifuncional com os apicultores”.“A
apicultura tem uma função muito importante, que vai para além da
económica e da ambiental. É uma atividade de saúde humana e é uma
atividade de produção de alimentos”, salientou, acrescentando que “as
abelhas são responsáveis pela polinização de mais de 30% da produção de
alimentos a nível mundial”.O secretário
regional da Agricultura anunciou ainda um reforço da plantação de
melíferas em espaços públicos, o aumento da formação de técnicos e
apicultores, a criação de um plano de sanidade apícola, a criação de
ações de sensibilização junto das escolas e da população em geral e a
identificação de locais propícios para a construção de apiários.“Temos
aqui, no âmbito da diversificação agrícola, uma boa saída para a
criação de emprego e para a fixação de pessoas em todas as ilhas”,
sublinhou.Só na ilha Terceira, existem três cooperativas a produzir mel e todas apontam para um crescimento do setor.“É
importante o apoio para incentivar que haja mais apicultores e mais
produção de mel. Temos a nossa produção toda vendida. Até temos rutura
de stocks em alguns momentos durante o ano”, salientou José António
Azevedo, da Cooperativa Agrícola da Ilha Terceira.O
reforço de apoios do POSEI é necessário “em todas as áreas”, frisou,
mas os Açores têm de ser “mais autónomos” no que produzem.“Não
podemos descurar pequenas produções como a apicultura ou como as
hortícolas. Temos de ter noção de que tudo é um bem necessário para a
nossa região”, apontou.Segundo Paulo
Rocha, da cooperativa Fruter, a produção de mel exige “alguma
paciência”, por isso, necessita de incentivos, mas o mel dos Açores é
“muito saboroso” e a região continua “protegida” de pragas como a vespa
asiática.“Há muita escassez de mel. Nós,
neste momento, já estamos com rutura de stocks e, quanto mais mel a
cooperativa tem, mais mel tem para vender. E estamos a falar só do
mercado local praticamente. Com a qualidade que o nosso mel tem, temos
hipótese de crescer”, reforçou.A
cooperativa Bioazórica lançou em 2020 um mel biológico, que ainda está a
ganhar espaço no mercado, mas apesar de dar os primeiros passos também
já pensa no aumento da produção.“Temos
seis produtores de mel, apenas três aderiram a esta marca de mel
biológico Bioazórica. A ideia é aumentar a produção, crescer e melhorar a
qualidade”, afirmou Miguel Garcia.