"Governo dos Açores liderou processo das Agendas Mobilizadoras"
PRR
7 de abr. de 2022, 10:02
— Lusa/AO Online
“A
câmara de comércio liderou os ‘webinars’ e a divulgação inicial dos
processos e disponibilizou os seus recursos para a marcação e a
agilização de reuniões em diversos aspetos”, afirmou o presidente da
CCIPD, Mário Fortuna, ressalvando que a associação o fez porque assumia a
liderança da Câmara de Comércio e Indústria dos Açores (CCIA).O
empresário falava, em Ponta Delgada, numa audição de mais de cinco
horas na comissão parlamentar de inquérito à operacionalização agendas
mobilizadoras do PRR nos Açores do Parlamento açoriano.Questionado pelo PS sobre se foi o Governo Regional a liderar o processo, na generalidade, Mário Fortuna respondeu: “claro”.O
presidente da associação empresarial salientou que foram envolvidas
“mais de 20 associações na divulgação deste processo”, numa fase
inicial.Quanto à elaboração da lista de
empresas que posteriormente se reuniram com as consultoras contratadas
pelo Governo Regional, Mário Fortuna disse resultou de uma “confluência
de contributos”.“O Governo Regional sugeriu alguns nomes, como nós sugerimos e como outros sugeriram”, adiantou.Acusado
pelas câmaras de comércio de Angra do Heroísmo e Horta de liderar
isolado o processo, o presidente da CCIPD garantiu que as três
associações tiveram acesso às mesmas informações, considerando
“incompreensível” a perceção dos colegas.“Nunca foi sonegada informação a ninguém. Se as pessoas não têm tempo para ler, tenho de lamentar”, apontou.O
presidente da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo alegou, numa
audição anterior, que, numa conversa privada com um consultor, o
presidente da CCIPD, Mário Fortuna, terá dito: “as agendas são minhas e
eu é que mando nisto”.Confrontado com
estas declarações, o empresário disse que careciam de um “esclarecimento
cabal” e que isso era “altamente ofensivo”.“É
mentira. Nunca aconteceu. Eu tenho noção de onde estou. A câmara de
comércio não é minha, é uma entidade coletiva. Nunca fiz disto o meu
projeto de vida”, sublinhou.Mário Fortuna
disse que os “atritos” entre as associações empresariais começaram
“antes das agendas mobilizadoras”, mas lamentou as “guerrilhas”,
frisando que divididos os empresários açorianos são “ainda mais fracos”.O
presidente da CCIPD garantiu que não foi a câmara de comércio a
selecionar as empresas que integraram os consórcios das agendas
mobilizadoras, explicando que o critério de adesão “resultou de um
trabalho que as consultoras fizeram”.Questionado
sobre um possível conflito de interesses por ser presidente da câmara
de comércio, professor da Universidade dos Açores e administrador de uma
das empresas que integrou uma das agendas, o empresário sublinhou que
“não tinha decisão absolutamente nenhuma” no processo.“Não
posso, por ser presidente de uma câmara de comércio, obstruir a empresa
de se posicionar para uma eventual candidatura. Então muitas das
empresas que foram candidatas não tinham lá estado, todas têm conflitos
de interesse”, afirmou.Mário Fortuna
ressalvou, no entanto, que não teve envolvimento direto no processo e
que foram outros membros do conselho de administração da empresa a
enviar uma carta ao chefe de gabinete do secretário regional das
Finanças, que por sua vez entrou em contacto com a consultora para que
essa empresa fosse tido em consideração nas agendas mobilizadoras.O
empresário rejeitou um acesso privilegiado aos membros do Governo
Regional, sublinhando que nunca usou o seu estatuto para “influenciar” o
executivo.Questionado sobre a liderança
da Profeiras, empresa da Câmara de Comércio e Indústria de Ponta
Delgada, na agenda do turismo, o empresário disse que “o líder do
consórcio é apenas um coordenador” e que as restantes empresas “não
queriam liderar”.Mário Fortuna
desvalorizou também o facto de terem sido agendadas reuniões entre
consultores e empresas para a secretaria regional das Finanças, alegando
que as consultoras não tinham escritórios e reuniram “onde era mais
conveniente”.A comissão de inquérito às
agendas mobilizadoras foi aprovada por unanimidade no parlamento
açoriano em outubro de 2021, depois de vários partidos terem questionado
a gestão feita pelo Governo Regional (PSD/CDS-PP/PPM) às verbas
previstas no PRR para o arquipélago ao abrigo daquele programa.Em
causa estava uma verba inicial de 117 milhões de euros, financiada pelo
PRR, destinada a projetos de inovação, turismo e agroindústria, a que
poderiam candidatar-se as empresas açorianas que apresentassem projetos
em consórcio com outros grupos económicos.Na
sequência de críticas ao processo, os consórcios criados nos Açores
deixaram cair as propostas, em outubro, a pedido do presidente do
Governo Regional, que disse ter a "garantia" do Governo da República de
que a verba destinada à região não estava em causa.