Governo dos Açores inicia em setembro negociações com municípios para pagar IVA Turístico
31 de jul. de 2024, 15:15
— Lusa/AO Online
“Os
equívocos nacionais e legislativos são muitos, demonstrando a
incompetência do legislador, mas vivemos com o que vivemos e, até ser
declarada inconstitucional, a lei é lei e tem de ser aplicada. Tenho
dúvidas do bom entendimento, que devia ter sido feito por parte dos
juízes do Tribunal Constitucional, que fizeram um acórdão, dizendo que
era responsabilidade dos orçamentos regionais o pagamento ao poder local
da taxa variável de IRS”, afirmou José Manuel Bolieiro, alegando que “a
Constituição diz que, em matéria de poder local, a competência é
exclusiva da Assembleia da República”.O
presidente do executivo açoriano falava, em Angra do Heroísmo, na ilha
Terceira, numa sessão de formação para autarcas de juntas de freguesia
sobre o novo Regime de Cooperação Técnica e Financeira entre a
administração regional e as freguesias.José
Manuel Bolieiro adiantou que o Governo Regional “termina este ano” de
pagar a dívida aos municípios dos Açores, relativamente à taxa variável
do IRS, mas defendeu que a Lei de Finanças Locais está a “usurpar” a Lei
de Finanças das Regiões Autónomas.O chefe
do executivo açoriano tem o mesmo entendimento sobre a obrigação de
pagamento do IVA turístico, que considera que deve ser assegurado pelo
Orçamento do Estado.“Estamos agora
confrontados com outra circunstância. A circunstância de, no quadro da
Lei de Finanças Locais, ter-se criado como previsão do aumento para os
municípios de uma receita do pseudo-IVA turístico, que é para ter
aplicação retroativa a 2021”, apontou.Ainda
assim, José Manuel Bolieiro anunciou que já deu indicações ao diretor
regional da Cooperação com o Poder Local para iniciar as negociações com
a Associação de Municípios da Região Autónoma dos Açores (AMRAA), para
que seja assinado um protocolo com vista ao pagamento das verbas do IVA
turístico.“Estou a muscular, à custa do
orçamento regional, as capacidades financeiras dos municípios dos
Açores, razão pela qual também sinto a moral para exortar os municípios a
reforçarem os meios de cooperação com as juntas de freguesias”,
afirmou, numa sala em que estavam presentes autarcas dos municípios de
Angra do Heroísmo e Praia da Vitória.Na
ação de formação, o presidente do Governo Regional salientou que o novo
regime de cooperação vai permitir apoiar os autarcas que “não têm
recursos humanos e técnicos ao seu dispor”, para evitar “serem, de forma
injusta, responsabilizados sob o ponto de vista civil, criminal e
financeiro por atos de gestão, quando estão confrontados muitas vezes
com leis complexas”. “Basta uma
negligência, perante um emaranhado de leis, de um despacho, de um papel
assinado ou por falta de assinatura, ou uma entrega tardia de um
documento, eis que se levanta o anátema da incompetência, da corrupção e
das dúvidas da honorabilidade dos autarcas”, alertou.Segundo
José Manuel Bolieiro, “o poder local é o poder de gestão pública mais
escrutinado que há no país”, mas por vezes confunde-se uma
irregularidade, que tem a ver com a deficiência da própria lei, com “a
prática de um crime”.“É a pior injustiça
que se pode fazer a quem dá de si a pensar em si ao serviço público. No
entanto, acontece. E é por isso fundamental trabalharmos em conjunto
para nos defendermos. Ninguém está livre de um erro, mas não se pode ter
como pressuposto, no debate politiqueiro e no mal dizer constante, que o
autarca é um perigoso gestor dos dinheiros públicos, porque tem um
interesse próprio ou por causa da sua reeleição, ou por causa de
favores, ou por causa da incapacidade de conhecimento das leis”, vincou.