Governo dos Açores diz que vai estudar alternativas a transporte marítimo interilhas
29 de set. de 2021, 15:53
— Lusa/AO Online
Por interpelação do
PS, Mota Borges falava na Assembleia Legislativa Regional dos Açores
(ALRA), na cidade da Horta, depois de socialistas e BE acusarem a
coligação de Governo (PSD/CDS-PP/PPM) de atacar a coesão regional, ao
eliminar ligações marítimas nas ilhas de Santa Maria, São Miguel e
Flores, sem “consultar ninguém ou estudar” o assunto. O
pedido de esclarecimentos do PS foi feito após ter sido conhecida, em
agosto, a aprovação em Conselho de Governo do concurso que deixa as
ilhas do grupo oriental, São Miguel e Santa Maria, sem serviço público
de transporte marítimo de passageiros e viaturas, porque a operação
sazonal foi restrita às ilhas do grupo central (Faial, Pico, São Jorge,
Terceira e Graciosa).Segundo a mesma
resolução, as ilhas do grupo ocidental, Flores e Corvo, continuam a ter
ligação regular entre si apenas para transporte de passageiros, sendo
eliminada a operação sazonal que ligava as Flores ao resto do
arquipélago e que permitia o transporte de viaturas.O
secretário regional dos Transportes referiu-se às ligações sazonais
como “comodidades de verão”, alertando para uma despesa anual “entre os
10 e os 12 milhões de euros” e para a opção agora existente de viajar de
avião com a Tarifa Açores (viagens interilhas a 60 euros para
residentes).“Aceitar este tipo de comodidades de verão pareceu-nos excessivo”, observou. Mota
Borges recusou uma “política despesista”, apontando que a taxa média de
ocupação na Linha Amarela (que fazia a operação sazonal e servia todas
as ilhas exceto o Corvo) rondava os 30%.“Andava a consumir gasóleo sem ocupação significativa”, lamentou.“Temos de fazer o necessário para compatibilizar as necessidades da região com a sua capacidade financeira”, alertou.O
debate começou com Tiago Branco, do PS, a recordar que em agosto, “sem
aviso prévio”, o Governo Regional tornou pública a intenção de lançar um
concurso público internacional para o serviço público de transporte
marítimo de passageiros e viaturas, extinguindo as ligações de e para as
ilhas de São Miguel, Santa Maria e Flores, e as ligações às ilhas do
grupo Central.“Mais grave é que a decisão
tenha sido tomada à porta fechada, sem auscultação pública, sem ouvir
conselhos de ilha, associações empresariais, presidentes de câmara, o
que revela uma total falta de transparência na condução deste processo”,
criticou.O socialista disse ainda estar
em causa um “ataque sem precedentes à coesão regional, colocando ilhas à
margem de outras e fomentando desigualdades no acesso aos transporte
marítimo”. Para o deputado, a decisão do
Governo “é tudo menos promover coesão ou o mercado interno”,
representando “um recuo de mais de 20 anos nas ligações marítimas
interilhas dos Açores”.Alexandra Manes, do
BE, destacou que o Governo “decidiu deixar as ilhas de São Miguel,
Santa Maria e Flores sem transportes marítimos sem ouvir ninguém”.“O Governo deu uma machadada no conceito de coesão e ignorou o parlamento”, afirmou.O
deputado do PSD Bruno Belo defendeu uma “análise séria e responsável do
ponto de vista dos custos para o contribuinte”, notando que em 2021,
nas Flores, houve “mais turistas” do que quando havia transporte
marítimo.Rui Martins, do CDS-PP, observou
que os navios “são altamente penalizadores do orçamento regional” e, só
no mês de agosto, a companhia aérea açoriana, a SATA, “vendeu mais de
100 mil voos”.Nuno Barata, da Iniciativa
Liberal (IL), disse que em 2020, ano da suspensão da Linha Amarela
devido à Covid-19, a mesma teve uma “poupança na ordem dos 12 milhões de
euros”, o que, “numa região paupérrima” como os Açores, “dava para
imensa coisa”.“A questão está em fazer uma análise custo-benefício”, notou. Pelo
PPM, o deputado Gustavo Alves apontou “grandes ilegalidades” nos
contratos de 2017 relativos ao transporte marítimo, defendendo a
necessidade de “voltar a estudar” o tema.José
Pacheco, deputado do Chega, considerou que eventuais problemas com o
transporte de passageiros estão minimizados com a Tarifa Açores”, sendo
“mais complexo o transporte de mercadorias”.Carlos
Furtado, deputado independente, considerou que “os anunciados dinheiros
do Plano de Recuperação e Resiliência [PRR] não podem ser argumento”
para não tomar “medidas mais rigorosas do ponto de vista financeiro.