Governo dos Açores diz que irá intervir nas evacuações médicas sempre que se justifique
17 de out. de 2018, 16:37
— Lusa/AOOnline
"É
minha competência intervir quando algum serviço não está a funcionar,
como é minha competência intervir quando alguns dos senhores deputados
também dizem que alguma coisa não está a funcionar e eu tento
corrigir!", insistiu o governante durante uma interpelação parlamentar,
proposta pelo PS, para discutir o serviço de transporte aéreo de
emergência médica.Rui
Luís, que tutela também a Proteção Civil na região, respondia assim às
acusações feitas pela bancada do PSD, que acusa o governante de ter
interferido, de forma abusiva, no processo de evacuação médica de dois
doentes, em fevereiro do ano passado, que geraram polémica e que
suscitaram um inquérito por parte da Inspeção Regional de Saúde.Mónica
Seidi, deputada social-democrata, disse durante a interpelação que o
secretário regional da Saúde devia abandonar o Governo porque entende
que não é digno do cargo que ocupa."O
senhor secretário é politicamente indigno de desempenhar as funções
para as quais foi eleito pelos açorianos", disse a deputada do PSD, que
entende que "a culpa não pode morrer solteira", apesar de o relatório da
inspeção não atribuir responsabilidades a ninguém.Também
Paulo Estêvão, do PPM, entende que o governante deve evitar interferir
nas evacuações médicas, recordando que Rui Luís "não é médico, é
gestor", e, portanto, "não deve intervir no âmbito de procedimentos com
esta tipologia".O
deputado socialista José San Bento, lamentou, no entanto, as críticas
feitas pela oposição, em especial pelo PSD, que acusou de pretender
fazer um "aproveitamento político" desta situação."Esta
intervenção procura fazer um aproveitamento político inqualificável",
criticou o parlamentar socialista, lamentando que os deputados
sociais-democratas não tenham trazido uma unida "ideia, projeto ou
medida" para melhorar o sistema de retirada de doentes, o que revela, no
seu entender, que o PSD é um partido "esgotado".Também
João Paulo Corvelo, deputado do PCP, entende que o mais importante é
"corrigir" as falhas detetadas no sistema de evacuações médicas nos
Açores e não encontrar "bodes expiatórios" para eventuais falhas que
tenham ocorrido."Mais
do que condenar e arranjar bodes expiatórios, esta inspeção deve e tem
de servir para corrigir rapidamente aquilo que tem de ser corrigido", no
sentido de se acabar com um "sistema permeável a distorções e a
interferências", advertiu o parlamentar comunista.Já
Artur Lima, deputado do CDS, considera que a culpa do polémico caso da
retirada de doentes não é do Governo socialista, mas da "médica
reguladora", que terá recusado tomar uma decisão em tempo útil."Não
o fazer foi uma decisão pessoal. Optou por não exercer a sua função e a
autoridade que lhe é legalmente conferida, ou seja, por outras
palavras, a médica reguladora, nesta situação, apenas se pode queixar de
si própria", recordou o parlamentar centrista.Paulo
Mendes, do Bloco de Esquerda, entende que o problema é mais complexo e
deve-se, em parte, ao atraso na disponibilização de uma segunda equipa
de tripulantes para os meios de evacuação médica e de busca e salvamento
disponíveis na Base das Lajes, na ilha Terceira."Essa
segunda tripulação é essencial, não só para missões de busca e
salvamento no Atlântico Norte, mas também fundamental para atender a uma
necessidade premente da nossa população, que são as evacuações aéreas",
recordou o parlamentar bloquista.Recorde-se
que o Governo abriu um inquérito a duas evacuações médicas (uma de um
doente de São Jorge e outra de um doente da Graciosa), requisitadas em
simultâneo, que terão sido alvo de interferências por parte da
ex-administradora do Hospital da Terceira, do presidente do Serviço
Regional Proteção Civil e até do secretário regional da Saúde, que
alegadamente terão dado prioridade a um dos pacientes (familiar da
ex-administradora) em detrimento do outro.O
relatório da inspeção, divulgado na semana passada, não atribuiu
responsabilidades diretas a ninguém, mas denuncia a existência de falhas
de comunicação entre os diferentes intervenientes no sistema de
evacuações médicas.