Governo dos Açores contra cobrança de ecotaxa a turistas de navios cruzeiros
3 de fev. de 2023, 19:02
— Lusa
Numa
audição na comissão de Economia do parlamento dos Açores, sobre o
projeto de decreto legislativo do PAN/Açores para a criação de uma
ecotaxa marítima a ser aplicada aos passageiros de navios de cruzeiro
que cheguem à região, Berta Cabral considerou que a proposta “reflete-se
na atividade turística”, sendo que os Açores são ainda “bastante jovens
em termos turísticos”. Berta Cabral
salientou que a taxa a nível nacional é de dois euros, quando a proposta
do PAN/Açores aponta para três, o que “retira uniformidade de
tratamento” e penaliza os portos dos Açores.De
qualquer forma, e apesar de ser contra a taxa, a governante defendeu
que, caso seja aprovada, deve ser orientada para os portos dos Açores
investirem em estruturas que promovam energias limpas na receção dos
navios cruzeiro.Berta Cabral recordou
ainda que a Direção Regional do Ambiente “não tem autonomia
administrativa e financeira” para gerir as receitas de uma taxa com
esta, que teria de ser entregue à tesouraria pública.Por outro lado, acrescentou, a Madeira não tem taxas, o que lhe confere uma vantagem competitiva.“Receio
que esta taxa venha retirar competitividade aos portos dos Açores em
termos comparativos com outros portos como a Madeira”, frisou a
governante.Berta Cabral lembrou igualmente
que o Governo dos Açores tem vindo a apostar na captação de navios mais
pequenos, menos poluentes, de expedição, que acrescentam valor, em
contrapartida com os grandes navios, no quadro da transição energética e
com base nas recomendações da União Europeia.Neste
quadro, a secretária regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas
revelou que foi celebrado um protocolo com a Madeira para uma aposta
conjunta em navios menos poluentes que toquem vários portos de ambos os
arquipélagos.“Uma taxa é mais uma taxa, o
mercado é que dirá como irá reagir. Nunca é positivo quando se quer
promover um produto ou destino”, declarou Berta Cabral. A
titular da pasta do Turismo referiu ainda que, no quadro de uma
indústria naval orientada para construir navios menos poluentes, a
Portos dos Açores não tem investimentos previstos, “o que não significa
que não estão pensados” pela empresa, “que acompanha com muito interesse
e está atenta para promover uma transição energética o mais rápido
possível”. Pedro Neves, deputado do
PAN/Açores, disse que são “grandes os navios e não pequenos, como se
pode ver em 2023”, os que aportam à região e que são dos “mais poluentes
do mundo”.O parlamentar salientou ainda
não existirem “estudos que sustentem que as taxas turísticas diminuem o
número de turistas para um destino”.Segundo
o PAN, a proposta é que a ecotaxa tenha o valor unitário de três euros
por passageiro, montante que "será canalizado para o financiamento de
utilidades geradas com atividades relacionados com o setor turístico,
com especial enfoque nas zonas de maior procura e afluência turística".Pretende-se
também a canalização de verba para "o apoio a projetos de entidades,
públicas ou privadas, que tenham como objetivo a preservação ambiental",
defende o PAN.O partido alerta que o
turismo de cruzeiro "é, comprovadamente, uma fonte de poluição aérea,
marítima e terrestre, com forte pegada ecológica"."Os
navios de cruzeiro, apesar de representarem uma pequena percentagem da
indústria naval global, são um dos mais poluidores, sendo responsáveis
por cerca de 24% de todos os resíduos originários da navegação marítima e
pela emissão de gases de efeito estufa. Só em 2018, e em referência aos
portos da União Europeia, os navios de cruzeiro emitiram mais de 139
toneladas de CO2", salienta o partido.