Governo dos Açores concorda com moratória à mineração em mar profundo
28 de fev. de 2023, 18:50
— Lusa
“A
mineração em mar profundo nesta região, com os alertas em uníssono da
comunidade científica, é incompatível com o que desejamos e defendemos
para o maior património dos Açores: o nosso mar”, disse o governante, no
encerramento de um debate público sobre a mineração marinho, realizado
na Horta, por iniciativa da
ANP|WWF
e da
SCIAENA – Associação de Ciências Marinhas e Cooperação.Para
Manuel São João, faz todo o sentido que seja criada uma moratória
regional nos Açores, a exemplo do que acontece nas Canárias, que proibia
qualquer ação comercial de extração de minerais do fundo do mar no
arquipélago, pelo menos até que haja um maior conhecimento científico
sobre os impactos dessa mineração.“Entendemos
como adequada uma moratória regional, à semelhança do que tem sucedido
com outras regiões, nomeadamente, as Canárias, que além de um limite
temporal, faça depender de um grau de conhecimento científico que
acautele o ambiente marinho”, advertiu o secretário regional do Mar e
das Pescas.O governante lembrou que, mesmo
que a exploração de minerais do fundo do mar fosse permitida nos
Açores, essa atividade “nem seria controlada pelos Açores”, uma vez que a
República “retirou” a competência de gestão dos mares dos Açores às
autoridades regionais.Na sua opinião, a
mineração do mar profundo deve ser encarada com “redobrada cautela”, por
não existir extração de minerais “sem perda de biodiversidade” e sem
“interferências” nas atividades económicas, designadamente na área das
pescas.“Os Açores, internacionalmente
reconhecidos como um oásis para a vida marinha, não podem, no atual
estado de conhecimento científico, avançar com qualquer processo que
potencie a destruição patrimonial, de forma irreversível”, salientou.Telmo
Morato, investigador do instituto Okeanos, ligado à Universidade dos
Açores, entende que a eventual mineração em mar profundo da região
destruiria a fauna marinha, os corais e a biodiversidade, mas também
poderia afetar os cardumes de atuns que atravessam o arquipélago.“Estas
plumas com potencial de toxicidade, derivado à libertação de metais
pesados, poderão entrar na cadeia trófica marinha, através do
fitoplâncton, e depois ser amplificada, até chegar, por exemplo, aos
grandes pelágicos, como os atuns”, alertou o investigador da academia
açoriana.Ana Matias, da Associação de
Ciências Marinhas, uma das organizadoras do colóquio, entende que os
impactos negativos de uma eventual mineração podem ser “muito
superiores” e a afetar também a atividade da pesca e mesmo o setor do
turismo, através da observação de baleias e golfinhos.“Estamos
a falar de impactos, alguns já estão estudados, mas muitos deles, e
sobretudo a sua escala, ainda é muito imprevisível, e isto iria afetar,
obviamente, toda a cadeia trófica, e todos os seres vivos que vivem no
mar profundo, e também as atividades económicas que dependem do
bem-estar do oceano e da passagem pela região de grande migradores, como
os cetáceos”, observou aquela dirigente associativa.A
ANP|WWF
e a Associação de Ciências Marinhas
promoveram a realização do debate de hoje para alertar o poder político
para a necessidade de se criar uma moratória que impeça a mineração nos
mares da região.As duas associações vão
entregar na quarta-feira, na sede da Assembleia Legislativa dos Açores,
na cidade da Horta, uma petição subscrita por mais de 380 pessoas, a
exigir que os deputados regionais discutam também o assunto.