Governo diz que até se comprometeu a viabilizar propostas do Bloco na especialidade
OE2021
26 de out. de 2020, 12:52
— Lusa/AO Online
Esta versão sobre as falhadas
negociações entre Governo e Bloco de Esquerda em relação ao Orçamento do
Estado para 2021 foi transmitida pelo secretário de Estado dos
Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, numa conferência de imprensa,
na residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento.Para
responder às exigências do Bloco de Esquerda no sentido de ser
reforçado o Serviço Nacional de Saúde (SNS), Duarte Cordeiro disse que o
executivo procurou acertar com os bloquistas "uma norma que consta do
Orçamento relativamente à contratação de profissionais de saúde". "Em
relação a essa mesma norma, fixámos com esse partido o número de
profissionais que seriam contratados, assim como o facto de a meta de
contratação a atingir ser do ponto de vista líquido [contando com as
saídas do sistema]. Depois da entrega da proposta de Orçamento do Estado
na Assembleia da República, o Governo comprometeu-se com o Bloco de
Esquerda que calendarizaria todo o processo de contratação pública
desses mesmos profissionais e que seriam aprovadas na especialidade
medidas do Bloco em sede de especialidade em matéria de concurso de
[médicos] especialistas", referiu o secretário de Estado dos Assuntos
Parlamentares. Porém, de acordo com o
mesmo membro do Governo, verificou-se que "houve um conjunto de
compromissos do Governo que o Bloco de Esquerda preferiu ignorar,
mantendo a sua posição de voto contra" a proposta de Orçamento."Houve
um esforço grande da nossa parte no sentido de procurar um ponto
intermédio, mas sentimos que em várias matérias as aproximações não
aconteceram do lado do Bloco de Esquerda", adiantou.Ainda
em matéria de SNS, Duarte Cordeiro defendeu que o Orçamento para 2021
do Ministério da Saúde apresenta um aumento de cerca de 1200 milhões de
euros face ao do corrente ano - "uma subida superior a 10%"."Mesmo
comparando com o Orçamento Suplementar, esta proposta orçamental tem
previstas para a área da Saúde um aumento de 786 milhões de euros. Neste
ano em particular, tivemos uma execução orçamental (que começou em
abril) que reflete um aumento do investimento na ordem dos 120%,
atingindo os 187 milhões de euros", apontou, procurando aqui contrariar
críticas que têm sido feitas pela dirigente bloquista Mariana Mortágua. Na
conferência de imprensa, igualmente em matéria de políticas de saúde, o
secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares afirmou ainda que o
Governo propôs um aumento de 50% do valor ao incentivo para a ocupação
de vagas em zonas carenciadas."Não nos
parece que seja pela indisponibilidade do Governo, ou pelo investimento
do Governo no SNS, que se justifica a decisão tomada pelo Bloco de
Esquerda.", sustentou.Já em relação ao
novo apoio social, outro ponto de diferendo entre bloquistas e
executivo, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares começou por
salientar que essa nova prestação "consta na lei do Orçamento do
Estado, com o Governo a garantir que, "no próximo ano, todos os
trabalhadores que terminam atividade, ou vejam chegar ao fim o seu
subsídio de desemprego ou subsídio social de desemprego, não ficam sem
nada".Perante os jornalistas, Duarte
Cordeiro referiu que o desenho da medida que cria o novo apoio social
foi evoluindo ao longo das negociações e que, ainda nesta semana, mais
concretamente no domingo, o executivo "mostrou-se disponível para
alargar a abrangência do apoio".Como
exemplo, neste capítulo, apontou a ideia de os trabalhadores de
independentes, cuja atividade tenha sido interdita por decisão das
autoridades de saúde, pudessem entrar no novo apoio social sem se
submeterem a condição de recurso."É muito
diferente a situação dos trabalhadores independentes que não conseguem
exercer atividade da situação daqueles que, neste momento, a podem
exercer. Procurámos criar apoio para quem precisa com condição de
recursos, mas também não nos furtámos à possibilidade de, perante uma
situação de impedimento do trabalho, esses trabalhadores estarem
dispensados de condição de recursos", advogou o membro do Governo -
aqui, novamente, em mais uma resposta a outro dos argumentos que levou o
Bloco de Esquerda a votar contra a proposta de Orçamento do Estado.Ainda
em matérias sociais, Duarte Cordeiro referiu que está previsto que,
"quem termine o subsídio de desemprego em 2021, possa aceder ao novo
apoio social também sem condição de recursos"."Assegurámos
que quem termina o subsídio social de desemprego pode aceder à nova
prestação e que existirá um complemento extraordinário que permita que o
valor do rendimento chegue ao limiar da pobreza. O Governo não falhou e
não falhará à emergência social neste período de crise", concluiu.Nas
leis laborais, o secretário de Estado reconheceu que o Governo não
tencionava negociar alterações às leis do trabalho no quadro do
Orçamento do Estado para 2021, mas, tendo em conta as posições do Bloco
de Esquerda, "decidiu avançar com um documento que contém diversos
compromissos em matéria laboral".Como
exemplos, nesta área, referiu a moratória que impede a caducidade dos
contratos coletivos de trabalho nos próximos dois anos e o prolongamento
em 2021 da proibição de despedimentos em empresas abrangidas por apoios
públicos associados à pandemia.Ainda de
acordo com o membro do executivo, o Governo procurou "alargar a
cobertura da negociação coletiva aos trabalhadores em 'outsourcing' e
havia disponibilidade para alterar a legislação de forma a reconhecer
todos os direitos dos trabalhadores que prestam trabalho através de
plataformas digitais".