Governo da Madeira diz que instabilidade dificultou ação em matéria de políticas europeias
10 de jul. de 2024, 11:41
— Lusa/AO Online
“A
necessidade de desenvolvimento da região e o imprescindível apoio da
União Europeia não são compatíveis com desatenções resultantes de
disputas políticas internas, algumas delas com epicentros nacionais”,
avisou o secretário das Finanças, Rogério Gouveia, adiantando que o
Governo Regional vai “continuar a fazer o trabalho que lhe compete”.O
governante falava no plenário da Assembleia Legislativa da Madeira,
durante a apresentação do Relatório Anual “A Região Autónoma da Madeira
na União Europeia – 2023”.“A instabilidade
política que, nos últimos tempos, se instalou, a cadência de atos
eleitorais, parte deles fora de calendário, introduziram alguma
dificuldade à nossa ação, mas não nos impediram de seguir em frente e de
fazer o que tem de ser feito”, afirmou.Rogério
Gouveia disse que a região continua a colocar em campo o “maior pacote
de fundos comunitários que alguma vez teve à sua disposição”,
nomeadamente através do Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027 e do
Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que canaliza para o
arquipélago cerca de 561 milhões de euros para execução até 2026.No
decurso do debate, a bancada do PS, o maior partido da oposição
madeirense, com 11 deputados num total de 47 que compõem o hemiciclo,
considerou que, apesar dos milhões de fundos europeus que a Madeira
recebeu últimas décadas, continua a registar os priores índices em
termos de desenvolvimento social. “Não
saímos da estratégia de só fazer obra”, disse o deputado Paulo Cafôfo,
também líder do PS/Madeira, adiantando que “falta cumprir a obra mais
importante, que é a obra da pessoa, que não atingiu o nível de vida
desejável”.“O Governo Regional [liderado
pelo PSD desde 1976] tem sido competente em gastar muito, mas
incompetente em gastar bem”, reforçou.Na
resposta, o secretário das Finanças recusou-se a “alinhar no discurso de
tragédia e desastre” e considerou não ser “correto nem honesto” afirmar
que não houve desenvolvimento social na região, sublinhando também que o
nível de aproveitamento e execução de fundos comunitários “é
excecional”.A bancada do JPP, a segunda
maior da oposição, com nove deputados, reforçou as críticas introduzidas
pelos socialistas, com o deputado Rafael Nunes a afirmar que a região
tem um “histórico de abusos e má utilização de fundos europeus”,
apontando como exemplo várias obras atualmente sem utilização, como a
marina do Lugar de Baixo e o heliporto do Porto Moniz.Por
outro lado, alertou que, apesar da construção de mais infraestruturas
hospitalares, as listas de espera para atos médicos cresceram e vincou
que, apesar da melhoria nas infraestruturas portuárias, nunca foram
garantidas ligações marítimas de passageiros entre o arquipélago e o
continente.O Chega, cuja bancada é
composta por quatro deputados, também indicou várias obras construídas
com fundos europeus e atualmente inutilizadas, como “fábrica de algas”
no Porto Santo, e a “biofábrica de moscas” na Camacha, e quis saber se
existe algum plano para a sua requalificação.“Não
podemos continuar com esses ‘elefantes brancos’ na nossa ilha”, alertou
o deputado Miguel Castro, também líder do Chega/Madeira, sublinhando a
necessidade de haver “mais rigor e transparência na utilização das
verbas”, nomeadamente do PRR. O secretário
regional das Finanças reconheceu que “houve investimentos menos
felizes” executados pelo Governo Regional com fundos europeus e indicou
que algumas infraestruturas serão concessionadas a privados, como a
“fábrica de algas”, e outras serão colocadas à venda, como a “fábrica
das moscas”, ao passo que no caso da marina do Lugar de Baixo está em
curso o processo de “renaturalização” da área.No
debate, o deputado único da IL, Nuno Morna, alertou para a “contínua
dependência” da região dos fundos europeus, ao passo que a deputada
única do PAN, Mónica Freitas, destacou algumas questões ambientais que
considera serem descuradas pelo executivo madeirense.