Governo britânico mantém apresentação de plano fiscal para 23 de novembro
30 de set. de 2022, 18:33
— Lusa/AO Online
Após
uma reunião com membros do Gabinete de Responsabilidade Orçamental
[Office of Budget Responsibility, OBR], organismo independente que é
responsável pelas previsões económicas que acompanham os orçamentos de
Estado, o ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, fez saber que uma
"previsão económica e fiscal" será publicada na data que já estava
marcada.O ministro foi acompanhado pela
primeira-ministra, Liz Truss, o que é invulgar nestes encontros, embora o
Executivo tenha insistido que esta não foi uma reunião de emergência. Por
seu lado, o OBR disse que pretendia dar um relatório preliminar com os
cálculos sobre a evolução da economia já na próxima sexta-feira, "como
sempre, baseadas no nosso juízo independente sobre as perspetivas
económicas e fiscais, e o impacto das políticas do governo”.Partidos
da oposição e até membros do próprio Partido Conservador, incluindo o
presidente da Comissão Parlamentar das Finanças, Mel Stride, urgiram
Kwarteng a antecipar a publicação dos seus planos. O
Executivo está sob pressão para tentar acalmar os mercados financeiros
após uma desvalorização da libra para um valor recorde mínimo em 50 anos
de 1,03 dólares e os juros da dívida a 10 anos atingiram de 4,5 por
cento, o máximo desde 2008. Os juros da
dívida medem o retorno que os investidores recebem sobre o investimento e
o aumento reflete um agravamento do risco. A
volatilidade levou o Banco de Inglaterra a intervir e anunciar um
programa de 65.000 milhões de libras (74.000 milhões de euros no câmbio
atual) para a compra de obrigações do Estado, o que ajudou a estabilizar
a libra e os juros da dívida. Na origem
da agitação desta semana está o “mini-orçamento” apresentado em 23 de
setembro pelo ministro das Finanças, dominado pelo corte de impostos e
congelamento dos preços da energia para famílias e empresas, medidas
destinadas a estimular a economia, em risco de recessão.Além
de reverter o aumento da contribuição para a Segurança Social, em vigor
desde abril e cancelar a subida prevista para os impostos sobre as
empresas, Kwarteng anunciou inesperadamente a extinção, em 2023, do
escalão superior de 45% dos impostos sobre os rendimentos de pessoas
singulares, a descida de 20% para 19% no escalão mais baixo e um
desconto imediato no imposto sobre a compra de habitação. O
custo da maior intervenção fiscal em décadas foi estimado em cerca de
45.000 milhões de libras (51.000 milhões de euros), ao qual acresce
60.000 milhões de libras (68.000 milhões de euros) do pacote de apoio
para a energia só nos primeiros seis meses, tudo suportado pelo Estado. Estas
medidas não foram acompanhados por previsões económicas independentes
do OBR nem planos para reduzir a despesa, o que levantou dúvidas de
economias e agências de ‘rating' sobre a sustentabilidade da dívida
pública, atualmente em 96,6% relativamente ao Produto Interno Bruto
(PIB). Os juros da dívida britânica a 10
anos já aumentaram 325% este ano, tornando muito mais caro ao governo
vender obrigações para financiar políticas.A
estratégia do Governo também foi criticado pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI), que alertou para o risco de acelerar a inflação,
que desceu para 9,9% em agosto, o que poderá levar o Banco de Inglaterra
a subir novamente as taxas de juro de referência, hoje nos 2,25%. Como
consequência, vários bancos retiraram do mercado centenas de produtos
de crédito à habitação nos últimos dias devido à expetativa de analistas
e economistas que as taxas de juro possam subir até 6% no próximo ano. Numa
nota positiva, o instituto de estatísticas Office for National
Statistics (ONS) corrigiu as contas sobre a economia e em vez de uma
queda de 0,1% no segundo trimestre, entre abril e junho, de 2022, afinal
o PIB cresceu 0,2%.Esta revisão contraria o cenário de o país já estar já em recessão, como sugeriu anteriormente o Banco de Inglaterra.