Governo admite empréstimo do Estado ao Fundo de Resolução para capitalizar Novo Banco
10 de jan. de 2018, 12:53
— Lusa/AO online
Na
comissão parlamentar de Orçamento, Finanças e Modernização
Administrativa, o deputado do PSD António Leitão Amaro apontou as
"dúvidas sérias" que surgem do acordo-quadro assinado entre o Estado e o
Fundo de Resolução, que esta semana chegou à Assembleia da República, e
que podem fazer crescer as responsabilidades assumidas pelo Estado."Caso
exista a depreciação desses ativos que afetem os rácios de capital,
caso o Fundo de Resolução seja chamado [a recapitalizar o Novo Banco],
caso não tenha meios financeiros para o fazer, então pode pedir
emprestado ao Estado os fundos necessários para satisfazer esses
compromissos. Existe essa possibilidade, sim, não vale a pena tentar
esconder. A partir daqui o que se faz é o Estado fazer um empréstimo ao
Fundo de Resolução", admitiu Mourinho Félix.Para
o secretário de Estado, "não faz muito sentido exigir o pagamento de
empréstimos que sejam concedidos em capital contingente primeiro e antes
de serem satisfeitas essas obrigações para depois o Estado voltar a
emprestar".Na
terça-feira à noite, o jornal on-line Eco divulgou o conteúdo do
acordo-quadro assinado entre o Estado e o Fundo de Resolução, para
viabilizar a venda do Novo Banco, afirmando que o documento protege
sempre o Fundo no caso de este não ter capacidade financeira para
reembolsar o Estado.Se
tiver outras obrigações financeiras por cumprir, o Fundo de Resolução
está isento de reembolsar o Estado pelos empréstimos que receba, até que
as restantes obrigações estejam cumpridas, resume o Eco. Questionado
pela deputada do CDS-PP Cecília Meireles sobre qual será o impacto
direto deste acordo nas contas públicas (dívida e défice) e se se pode
verificar já em 2019, o ministro das Finanças, Mário Centeno, disse não
ter informação sobre como é que esse risco se vai materializar."Mas
esse risco existe. É importante que o Fundo de Resolução esteja ciente
da necessidade de gerir esse risco e é importante que estejamos todos
avisados de que há um risco em toda esta operação. Mas não nasce em
outubro de 2017 nem em janeiro de 2017: nasce a 03 de agosto de 2014",
afirmou o governante.A
venda do Novo Banco (o banco que sucedeu ao BES, resgatado em agosto de
2014) foi concretizada em outubro ao fundo norte-americano Lone Star,
mas o Estado pode continuar a ser chamado a ajudar financeiramente o
banco, diretamente ou através do Fundo de Resolução.Desde
logo, para ajudar a capitalizar o Novo Banco aquando da sua criação, o
Estado emprestou ao Fundo de Resolução bancário 3.900 milhões de euros.Este
fundo – apesar de consolidar nas contas públicas e de ser gerido pelo
Banco de Portugal – é detido pelos bancos que operam em Portugal, pelo
que lhes caberá a eles devolver o dinheiro ao Estado.Mas
essa devolução será a muito longo prazo. Já este ano, o Governo acordou
que os bancos poderão pagar essa dívida em contribuições regulares
anuais até 2046.E
as responsabilidades do Estado poderão não ficar por aqui. Uma das
condições da venda ao Lone Star implica que, durante oito anos, o Fundo
de Resolução terá de compensar o Novo Banco por perdas de capital
resultantes de um conjunto de ativos 'tóxicos', no máximo de 3,89 mil
milhões de euros.Uma
vez que não deverá ter dinheiro para injetar no Novo Banco, caso
precise, o Fundo de Resolução poderá ter de voltar a pedir um empréstimo
ao Estado.Por
fim, o Estado português poderá ainda ser chamado colocar mais dinheiro
no Novo Banco, caso o banco precise de capital “em circunstâncias
adversas” e não haja investidores dispostos a recapitalizá-lo, segundo o
acordo entre o Estado português e a Comissão Europeia pela qual
Bruxelas deu ‘luz verde’ ao plano de reestruturação do Novo Banco.Quanto
ao novo dono do Novo Banco, a Lone Star é uma gestora de fundos de
'private equity' norte-americana, que investe em diversos setores de
atividade (como o imobiliário e a recuperação de crédito, além da
própria banca) em diferentes geografias. Em Portugal, a entidade é a
dona de quatro centros comerciais Dolce Vita (Porto, Coimbra, Vila Real e
Lisboa) e de um empreendimento de Vilamoura (marina e terrenos), que
está em processo de venda, segundo a imprensa.A Lone Star comprou em outubro 75% do Novo Banco, mantendo o Fundo de Resolução os restantes 25%.A
compra do Novo Banco não implicou o pagamento de qualquer preço, tendo o
Lone Star acordado injetar 1.000 milhões de euros no Novo Banco para o
capitalizar.