Governo acaba com programa Bairros Saudáveis contrariando decisão do anterior executivo
13 de ago. de 2024, 12:03
— Lusa/AO Online
“O
Governo decidiu não dar continuidade ao programa Bairros Saudáveis,
informação transmitida pelo secretário de Estado Adjunto da Presidência,
dr. Rui Armindo de Freitas, em reunião com o atual coordenador
nacional, João Afonso, no passado dia 07 de agosto”, informou a
estrutura de coordenação, em comunicado.Ressalvando
que esta informação carece de formalização do Governo da Aliança
Democrática (AD, coligação PSD/CDS-PP/PPM), a coordenação nacional do
programa - João Afonso (2.ª edição) e Helena Roseta (1.ª edição) -
avançou com a divulgação por considerar necessário partilhar com todos
os interessados, inclusive as organizações que aguardariam o lançamento
de um novo concurso.“Entende o Governo
que, estando ultrapassado o contexto pandémico em que o programa foi
criado e não partilhando das premissas do anterior executivo [do PS] que
levaram à sua continuidade (explicitadas na Resolução do Conselho de
Ministros n.º 158/2023, de 11 de dezembro), quer dar por terminado o
programa”, expuseram os coordenadores.No
âmbito do fim dos trabalhos, o Governo liderado por Luís Montenegro
solicitou a execução de um relatório final, até 31 de outubro.“Apesar
desta decisão, o secretário de Estado Adjunto da Presidência agradeceu o
empenho e as diligências efetuadas com vista ao lançamento do concurso
da 2.ª edição e fecho da 1.ª edição”, destacou a coordenação nacional.Sem
se pronunciarem diretamente sobre a decisão, João Afonso e Helena
Roseta, ambos arquitetos, afirmaram que “não foi fácil lançar e realizar
um programa participativo de apoio às comunidades e territórios
vulneráveis à escala nacional (com exceção das regiões autónomas)”.“Um
esforço que valeu a pena, pois o entusiasmo e a energia social das
parcerias que levaram 240 projetos até ao fim superaram todas as
expectativas e temos muito orgulho nos resultados alcançados”,
sublinharam, agradecendo o “enorme trabalho” desenvolvido pelas
parcerias locais e pelas entidades envolvidas na concretização do
Bairros Saudáveis.Apesar de respeitarem a
decisão do atual Governo, João Afonso e Helena Roseta defenderam que
“persiste, para além da pandemia”, a necessidade de políticas públicas
que combatam as desigualdades sociais e territoriais, promovam a coesão
social e a participação cívica, envolvendo as pessoas e comunidades mais
vulneráveis.“O programa Bairros Saudáveis
termina, mas a energia social capaz de fazer muito com pouco,
promovendo a saúde e a qualidade de vida onde ela é mais necessária,
continuará disponível para intervir”, reforçaram.Assim
sendo, os arquitetos esperam que “mais cedo ou mais tarde” sejam
lançados novos programas públicos, participativos, transversais e
criativos, “que tanta falta fazem para pôr em prática o grande lema dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas: não deixar
ninguém para trás”.Em vigor desde julho de
2020, o Bairros Saudáveis foi criado para apoiar intervenções locais de
promoção da saúde e da qualidade de vida das comunidades territoriais,
através de projetos apresentados por "associações, coletividades,
organizações não governamentais, movimentos cívicos e organizações de
moradores". Na 1.ª edição a dotação disponível foi de 10 milhões de
euros.Desenvolvidos nos eixos da saúde,
social, económico, ambiental ou urbanístico, os projetos a candidatar
podiam ser pequenas intervenções (até 5.000 euros), serviços à
comunidade (até 25.000) ou projetos integrados (até 50.000 euros), em
que todos eram avaliados e pontuados por um júri independente.Em
junho de 2023, no encerramento da 1.ª edição, o então
primeiro-ministro, António Costa (PS), elogiou o exemplo de mobilização
social do programa e anunciou que passaria a ter um caráter permanente,
com edições em cada três anos. Para a realização da 2.ª edição, foi
nomeado como coordenador nacional o arquiteto João Afonso, em
substituição de Helena Roseta.