Gouveia e Melo diz que democracia não é inevitável e deve ser defendida
10 de abr. de 2023, 17:10
— Lusa/AO Online
“A
democracia não é inevitável. Nós temos de a defender. Ela deve ser
alimentada e sustentada”, afirmou Gouveia e Melo, em Porto de Mós
(Leiria), no âmbito da conferência “O mundo dividido entre autocracias e
democracias”, integrada num ciclo no âmbito das comemorações dos 50
anos do 25 de Abril.Segundo o almirante,
“se as democracias falharem em apresentar argumentos convincentes sobre a
importância das liberdades políticas ou se os cidadãos ficarem
desiludidos com a forma como são governados, uma nova geração de
autocratas estará muito disposta a intervir e tomar as rédeas do poder".“Se tiverem sucesso, o mundo tornar-se-á mais violento, corrupto e perigoso para viver”, avisou.No
discurso, onde falou sobre o fim da Guerra Fria, Gouveia e Melo
assinalou que “a desestruturação dos sistemas ideológicos de referência,
alguns efeitos negativos da globalização e um conjunto desastroso de
políticas internacionais fizeram renascer nacionalismos adormecidos e
extremismos identitários e religiosos fraturantes da sociedade
internacional”.“Os governos democráticos
podem não estar mais ligados à paz que as autocracias, mas está bem
estabelecido que as democracias raramente entram em guerra umas com as
outras”, assinalou, abordando depois o enquadramento geopolítico e
geoestratégico, o ressurgimento das autocracias e os desafios das
democracias.De acordo com Gouveia e Melo,
“o avanço de regimes autocráticos tem gerado preocupações quanto ao
enfraquecimento das instituições democráticas, a erosão dos direitos
civis e a ameaça à liberdade de imprensa”, notando que, num “reflexo da
mudança do equilíbrio do poder financeiro, as autocracias estão cada vez
mais a financiar as democracias, o que é preocupante, com as economias
ocidentais dependentes dos fluxos de capital das economias chinesas e do
Golfo Pérsico”.Para o chefe do
Estado-Maior da Armada, no âmbito dos desafios da cooperação
internacional, “a rivalidade entre democracias e autocracias apresenta
desafios significativos”, pois “num mundo cada vez mais polarizado, a
colaboração em questões globais tornou-se mais difícil e as nações estão
cada vez mais relutantes em trabalhar juntas em áreas como o comércio, a
segurança e o meio ambiente”.Gouveia e
Melo salientou ainda que a “invasão russa à Ucrânia produziu a maior
unidade e urgência entre as democracias dos últimos 40 anos”, referindo
que “as democracias ocidentais têm-se unido em torno de valores comuns”,
como a liberdade de expressão, a proteção dos direitos humanos e a
defesa do regime democrático.Por outro
lado, “as nações autocráticas, como Rússia e China, têm-se posicionado
como alternativas ao modelo democrático ocidental, oferecendo a sua
própria visão, revisionista, de desenvolvimento político e económico”,
para sublinhar que “uma nova Guerra Fria não é inevitável”.Ainda
assim, “a cooperação entre as democracias e autocracias em questões
globais, como o combate ao terrorismo, a crise climática e a pandemia”
de covid-19, “pode ajudar a reduzir a tensão entre os blocos”.O
chefe do Estado-Maior da Armada acrescentou que “Portugal, enquanto
Estado-nação, pequeno e limitado no seu poder relativo no concerto das
nações, deverá ter, na formulação das suas políticas, em consideração
que o mundo não está nem parece caminhar para a paz global”, sendo que
“nenhum sistema legal internacional, ‘per se’, protegerá integramente os
interesses portugueses”.“Portugal não
estará livre de ser arrastado, face às coligações a que pertence, à
posição e ao espaço que ocupa geograficamente e aos seus interesses,
para uma zona mais central e quente do conflito” entre os dois blocos,
acrescentou.