Autor: Paula Gouveia
Com base na investigação que José Baptista, professor da Universidade
dos Açores (UAç), tem desenvolvido sobre as propriedades do chá da
‘Camellia sinensis’ dos Açores, a fábrica de chá Gorreana vai produzir
um novo tipo de chá com propriedades relaxantes e benéficas para a
saúde, nomeadamente para reduzir os efeitos do declínio das funções
cognitivas e da degenerescência cerebral, que aumentam com a progressão
da idade, assim como os riscos dos efeitos negativos das doenças de
Alzheimer e Parkinson.
O projeto será candidatado ao Prorural +,
pela Fábrica de Chá da Gorreana. José Baptista explica que desenvolveu
um estudo comparativo do chá dos Açores com chás de outros países e
verificou que “o nosso chá tem um teor de polifenóis que, no caso
particular do chá da ‘Camellia sinensis’ tem o nome de catequinas,
superior aos outros. Há um muito parecido na China, na província de
Fujian que também fica junto ao mar, mas tem três vezes mais cafeína do
que o da Gorreana”, explica o investigador.
“Apercebi-me também de
uma outra característica: o chá dos Açores é menos adstringente, isto é,
quando se bebe o chá sem açúcar que é assim que se deve beber, ele é
menos amargo. O que me levou a pensar que o chá dos Açores deveria ter
um aminoácido que é ligeiramente adocicado e que só existe na folha do
chá e numa variedade rara de cogumelos - a L-Teanina”, revela José
Baptista.
Este aminoácido, derivado do ácido glutâmico e da
etilamina, produzido na raiz da planta, pode atravessar a barreira
hematoencefálica e chegar rapidamente ao cérebro, meia hora após a sua
ingestão, tendo a propriedade de estimular neurotransmissores
responsáveis pela sensação de relaxamento e bem-estar, como a dopamina,
serotonina, o ácido gama-aminobutírico (GABA) e ainda induzir o aumento
das ondas alfa do cérebro ajudando a reduzir a ansiedade e a controlar o
stress com diminuição do nervosismo e da insónia.
Adicionalmente a
L-Teanina favorece a concentração e o estado de alerta, isto é não
provoca sonolência nem falta de coordenação cerebral, sendo então
extremamente útil para todos, e particularmente para seniores, onde a
diminuição da ação dos neurotransmissores referidos tem como
consequência uma diminuição das funções cognitivas.
A L-Teanina possui ainda certa atividade antioxidante com efeitos benéficos no combate à ação dos radicais livres.
Quando
conseguiu ter acesso ao aminoácido puro, foi possível quantificar a sua
presença nos chás de diferentes proveniências. E José Baptista chegou à
conclusão de que tinha razão: “o nosso era superior aos outros chás - o
mais próximo era o de Taiwan”.
O chá dos Açores possui este
aminoácido em maior quantidade, concluiu o investigador que agora vai
ajudar a Gorreana, no desenvolvimento de um processo de secagem, a
temperaturas mais baixas, que permita preservar a maior quantidade
possível deste aminoácido e monitorizar o teor presente nas folhas do
chá.
Notícia publicada na edição de 18 de setembro de 2017 do Açoriano Oriental