González Urrutia nega pressões de Espanha para deixar Caracas
20 de set. de 2024, 14:58
— Lusa/AO Online
"Não
fui coagido nem pelo Governo de Espanha nem pelo embaixador espanhol na
Venezuela", escreveu González Urrutia, num comunicado divulgado na rede
social X pelo ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) de Madrid, Jose
Manuel Albares.González Urrutia garantiu
que as "gestões diplomáticas" feitas por Espanha tiveram como único
objetivo facilitar a sua saída em segurança da Venezuela, nomeadamente, a
deslocação entre a embaixada espanhola, onde estava refugiado, e o
aeroporto em Caracas onde um avião militar espanhol o foi buscar para o
transportar para Madrid no início deste mês.Espanha
atuou "sem exercer qualquer tipo de pressão" e "assegurando em
permanência" o "bem-estar e liberdade de decisão", escreveu o candidato
da oposição ao regime de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais de
julho, alvo de mandados de detenção na Venezuela por reivindicar a
vitória nas votações.Edmundo González
Urrutia fez este esclarecimento depois de ter dito, na quarta-feira, que
para poder abandonar a Venezuela foi coagido a assinar um documento
reconhecendo os resultados oficiais das eleições, que dão a vitória a
Nicolás Maduro, mas são contestados pela oposição e por parte da
comunidade internacional.“Enquanto me
encontrava na residência do embaixador de Espanha, o presidente da
Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, e a vice-presidente da República,
Delcy Rodríguez, apresentaram-me um documento que tinha de assinar para
poder sair do país”, explicou, num vídeo divulgado nas redes sociais.Esta
declaração de González Urrutia seguiu-se à divulgação de imagens, por
parte do regime de Maduro, do candidato da oposição a assinar o
documento em causa na Embaixada de Espanha, na presença de Jorge e Delcy
Rodríguez, mas também do próprio embaixador espanhol.Tanto
a declaração de González Urrutia como as imagens geraram polémica em
Espanha, com a oposição de direita a acusar o Governo do socialista
Pedro Sánchez de estar alinhado com Maduro e de ter pactuado com as
coações de que foi alvo o candidato da oposição."Em
nenhuma circunstância é tolerável a coação de um representante legítimo
de um povo soberano numa embaixada espanhola. O embaixador na Venezuela
deve ser substituído. O ministro dos Negócios Estrangeiros deve
demitir-se. E o primeiro-ministro deve dar explicações imediatas",
defendeu o líder do Partido Popular (PP, direita), Alberto Núñez Feijóo.Outro
dirigente do PP, Esteban González Pons, considerou mesmo o Governo
espanhol cúmplice da manutenção no poder de Maduro, que qualificou como
ditador.O MNE espanhol agradeceu a
González Urrutia o comunicado em que nega coações por parte da Espanha e
"por defender a verdade face às calúnias e injúrias"."Espanha está comprometida com a democracia e os direitos humanos", garantiu Albares, numa publicação na rede social X.Numa
entrevista à televisão pública espanhola (TVE), Albares
lamentou ainda que o PP tenha obrigado González Urrutia a publicar um
comunicado com um esclarecimento.A direita
espanhola tem também questionado o papel do antigo primeiro-ministro de
Espanha Jose Rodríguez Zapatero, também socialista, que mantém boas
relações com o regime de Maduro, mas também com dirigentes da oposição,
havendo várias fontes a sublinhar que funcionou como mediador para a
saída de González Urrutia da Venezuela.Zapatero
não se pronunciou até agora sobre as eleições na Venezuela, onde
acompanhou o processo eleitoral a convite das autoridades locais, e
também não falou sobre a situação no país depois de anunciados os
resultados oficiais. O Governo espanhol também tem recusado fazer comentários sobre Zapatero.Espanha,
como todos os países da União Europeia (UE), não reconheceu a vitória
de Maduro nas eleições de julho e pediu que sejam publicadas as atas das
votações de todas as mesas de voto.O
Governo de Sánchez tem garantido, por outro lado, que a retirada de
González Urrutia de Caracas correspondeu a um pedido do próprio e que
não houve qualquer negociação com o executivo venezuelano. Segundo
Madrid, os contactos entre os dois governos limitaram-se a abordar
questões logísticas para garantir a deslocação, em segurança, de
González Urrutia entre a embaixada de Espanha e o aeroporto de onde saiu
para o exílio em Espanha.